28 anos. Eu nem consigo imaginar o tanto de gente com essa idade ou menos que joga videogame hoje em dia. Pessoas com filhos, carro na garagem, dois empregos, boleto pra caramba e tudo mais que alguém beirando os trinta tem por direito ou por obrigação, e que (se preparem, palavras fortes à frente) não presenciaram o lançamento do primeiro Playstation!
Pois é, se você se surpreendeu ao absorver essa constatação, saiba que eu estou te chamando sim, na melhor das hipóteses, de tiuzão! Você precisaria ter entre 8 e 10 anos de idade na época para desfrutar daquele lançamento (o que te deixa com uns 36 anos) e mais do que isso para “entender” a grandeza do que estava acontecendo ali, naquele finalzinho de 1994.
O Playstation estava, naquele momento, chegando às casas do povo nipônico para começar a destruir a hegemonia da Nintendo e suas quebras de contrato e blá blá blá, aquela velha história que todo mundo já ouviu um trilhão de vezes e que eu não estou nem um pouco a fim de contar de novo… Não senhor, o foco aqui é outro: é a minha visão da época, a visão do jogador brasileiro que insistia no Mega Drive e no Super Nintendo enquanto esperava ansioso todos os meses uma revista semi especializada qualquer chegar às bancas para trazer informações sobre aqueles novos aparelhos que iam aparecendo do outro lado do mundo por que era isso que nos restava.
Sony: a novata que deu certo
E aquilo nos deixava maravilhados: gráficos 3D de última geração, tudo quase real, polígonos lindos! É, o gamer daquela época era bem menos exigente, e por isso, quando os primeiros Playstations e Saturns começaram a surgir nas game locadoras no final do ano seguinte e ainda que estivessem engatinhando em matéria de jogos, a jogatina por tempo se tornou disputada como nunca!
Mas, com o tempo, a coisa foi mudando.
Os Gráficos do Playstation, eu muitos jogos, eram surpreendentes
Claro, hoje sabemos que o Playstation deu um pouco de sorte também: o seu sucesso tem mérito próprio, mas Sega e Nintendo ajudaram com uma dose cavalar de incompetência na fabricação e gerenciamento dos seus consoles novos. Só que, na época, ninguém sabia disso e demorou bastante para entendermos o que estava acontecendo: aquele tal de Playstation, da gigante, porém, novata Sony, estava dominando completamente o mercado, com uma cacetada de jogos avassaladores e o suporte de um monte de empresas super tradicionais que pareciam não dar mais a mínima para Sega e Nintendo.
O preço do console foi diminuindo por que a oferta foi aumentando, aumentando DEMAIS! Por aqui, tudo graças ao mercado paralelo, vulgo os “camelôs”, que importavam a rodo o Playstation e vendiam seus jogos no formato caolho a preços irrisórios. Eu não pude abrir mão de comprar o meu Nintendo 64 logo depois do seu lançamento, em 1996, um console que eu adorei jogar com todas as forças, mas quando um amigo que havia acabado de comprar um exemplar do console nintedista me ofereceu o seu Playstation novinho, na caixa, com manuais e todos os panfletinhos intactos, pela pechincha de R$200 FHCs, eu nem pensei: comprei e, dali pra frente, o universo dos games em 3D se abriu como nunca em minha vida.
Playstation: a minha nova casa
Essa minha compra aconteceu em meados do final de 1997, época em que ninguém mais se lembrava do Sega Saturn e que o Nintendo 64 já demonstrava suas evidentes fraquezas que culminaram numa biblioteca de jogos muito pequena, ainda que contando com alguns dos melhores títulos que joguei na minha vida, quiçá da história. O que acontecia era que entre um 007 Golden Eye e um The legend of Zelda Ocarina of Time, eu detonava uma dúzia de jogos de Playstation por que a biblioteca do console parecia infinita… E o tio do camelô, que vendia 3 jogos por R$15 FHCs, ajudava muito nisso também.
Mas, quando tudo começou, eu não tinha jogo nenhum. Esse meu amigo nem sabia que o videogame era “destravado” e só havia usado nele até ali, jogos originais alugados (sim, o Playstation veio antes da pirataria, ok?). Ele me vendeu o aparelho sem nenhum jogo! Então, naquele primeiro final de semana, eu só tinha o CD DEMO pra testar, algo que nem ele próprio havia feito: o cd estava ainda dentro da embalagem lacrada, nunca havia sido usado.
Bom e velho CD Demo! Numa época em que a internet ainda engatinhava, aquele disquinho cheio de demonstrações que sempre acompanhavam o console na embalagem era um jeito espetacular das empresas nos mostrarem os seus jogos, e se a gente gostasse de algum, era pegar um ônibus e ir atrás, claro, de uma cópia ilegal do mesmo.
Lembro-me que mais alguns amigos estavam em casa, quatro ou 5 pessoas ao todo, e ficamos vidrados na demo de um game da franquia The Need for Speed! Devia ser o 2, não tenho como ter certeza, mas o jogo só liberava uma única corrida que acabamos jogando por um tempão revezando o controle. Mas foi quando resolvemos jogar a demonstração daquele tal de Parappa the Rapper, que a coisa se tornou divertida em um novo nível.
Good job, Parappa!
Acreditem: houve um momento na história dos games em que os botões do controle do Playstation eram a coisa mais confusa do universo.
Quadrado? Bola? Triângulo? Era impossível decorar aquilo e suas posições! Deus, cadê o familiar A B X Y?
Então aquele boneco estranho que parecia um recorte de papel começou a dançar cantando um RAP junto de uma cebola karateca e simplesmente ninguém no recinto conseguia vencer aquele desafio, nem parar de jogar. Era simplesmente viciante, um dos meus amigos até começou a dançar na sala tentando entrar no ritmo… Em vão, ninguém venceu o desafio do Mestre Cebola! Era preciso decorar aquela nova nomenclatura de botões e aquele jogo era um excelente exercício para isso.
Depois de horas, todos foram embora e eu continuei ali, jogando, com as mãos suando, melhorando a cada partida, até que finalmente, venci o cebola e escutei um sonoro GOOD JOB, PARAPPA!
Felicidade momentânea, pois não havia outra fase, era apenas aquele desafio mesmo, e a demo do game terminou.
Mas eu precisava de mais, eu tinha que saber o que viria depois! Então, assim que o fim de semana acabou, eu fui até o bairro da Lapa, na zona oeste de São Paulo, procurar Parappa the Rapper, aquele que seria o meu primeiro jogo completo do Playstation.
E foi com Parappa the Rapper que eu tive certeza de que o meu Playstation era destravado. As barraquinhas dos camelôs já estavam forradas de jogos paralelos e, a princípio, aquilo me incomodou! Não por ser um jogo pirata, mas sim porque, esteticamente falando, não havia um padrão de qualidade entre as caixinhas e encartes! Sim, eu sempre fui muito fresco com essas coisas: eu pegava a caixinha da mão, via o CD todo mal printado, um encarte desbotado… Não, pra mim não servia! Eu queria algo mais bonitinho, com um acabamento melhor, algo mais padronizado e foi então que aquele P vermelho apareceu na minha frente: vasculhando os games da terceira ou quarta barraca, lá estava um Parrapa the Rapper que passaria por original, se não fosse pela cor da mídia, que não era preta. A marca: Players.
Comprei e, automaticamente, aquele virou o meu padrão para jogos paralelos, mas disso eu vou falar no próximo capítulo! Por enquanto, foquemos no Rapper de papel!
Cheguei em casa após o serviço com o jogo dentro da sacolinha… ele e mais dois outros títulos que eu peguei junto na conhecida promoção de 3 por 15 (que eu direi quais foram no próximo capítulo), e fui logo colocando no aparelho pra ver se funcionava porque… o próprio cara que me vendeu o Playstation não sabia se ele era destravado e pra piorar, um dos camelôs havia me deixado com a pulga atrás da orelha por que o desgraçado resolveu falar um monte de mentiras sobre destravamento daquelas que para o leigo, pareciam super autênticas! Mas o Play era destravado sim, liguei o console e a telinha branca sumiu rapidinho! Mal sabia eu que anos depois, passar dessa tela branca seria motivo de festa…Mais um assunto para depois!
Parappa the Rapper: review pra aproveitar!
Agora sim eu estava jogando Parappa the Rapper em sua versão completa, com uma história simples e engraçada que colocava o jovem Parappa em uma aventura musical contra os maiores rappers da região (ou não) em busca dos objetivos mais sem noção que eu já havia visto em um jogo de videogame, tudo em prol de ser reconhecido pela sua garota dos sonhos!
As disputas de rapp consistem em apertar uma sequência de botões na ordem e momento certos, algo muito comum hoje em dia, mas que era uma inovação sem tamanho naquela época. Errou demais, perdeu! Acertou o suficiente, passou pelo desafio e vamos ver mais uma parte da história, sempre com uma musiquinha melhor e mais inesquecível que a outra.
Acho que Parappa the Rapper tem uma das trilhas sonoras mais épicas da história dos jogos de videogame! Da vaca instrutora da auto escola à galinha confeiteira, cada música é mais inesquecível que a outra, com ritmos que me fazem sorrir neste exato momento só de lembrar as melodias e as letras. “In the rain or in the snow! In the rain or in the snow!” Duvido que você não leu cantando com a voz do sapo e do Parappa!
O visual achatado e peculiar, para quem havia acabado de sair da geração de 16 bits, era um espetáculo por que tudo era feito seguindo uma direção de arte que tinha a intenção de deixar tudo o mais caricato possível, com um charme único e muito humor. O jogo cativava demais, era como assistir a um desenho animado daqueles bem malucos.
O jogo era difícil até o momento em que você finalmente decorava o padrão dos botões do Playstation, e se tornava uma aventura bem curta após a primeira terminada, mas com um fator replay altíssimo em busca das melhores performances ou só para ouvir as músicas de novo e de novo.
Joguei Parappa the Rapper exaustivamente naquela semana, terminava o jogo duas ou três vezes por dia de tão divertido que ele era. Chamei os amigos para jogar e fiquei só assistindo porque apenas isso já era suficiente pra dar muita risada. Posso até declarar com toda certeza que este foi um dos games mais divertidos que eu joguei na vida, e naquela altura do campeonato, eu já havia jogado muita coisa.
Mas ainda existiam mais dois jogos na sacola, ambos em disquinhos da Players e eu já estava jogando os dois naquela semana, até já havia terminado um deles.
Mas isso, jajá eu conto!
Fim da primeira parte.
O slogan do antigo RetroPlayers ainda vale pra mim: “também to morto mas tô aí!”
E muito bem acompanhado =)