RetroReview: ActRaiser
Se tem uma coisa nessa vida que todo retrogamer sabe, é que o nosso saudoso Super Nintendo/Famicom possui um caminhão de excelentes títulos em sua vasta biblioteca (…gameteca?). Não é tão fácil quanto parece, escolher uma destas maravilhas e escrever uma matéria para o Retroplayers. São tantos jogos bons que às vezes é preciso tomar umas caipirinhas pra ver se a coisa deslancha. Para facilitar a trabalheira toda, existem aqueles que, de alguma maneira (ou de várias), conseguem chamar a nossa atenção.
Este game em questão, chama a atenção por diversas razões e, da mesma forma como ocorre com outros excelentes títulos, possui elementos que o tornaram um verdadeiro clássico. Assim, o escolhido da vez é ActRaiser.
Começando pelo começo…
A série é composta por 2 jogos. O segundo chega a ser melhor que o primeiro em vários aspectos. Mas também é considerado pior para muitos, justamente por não trazer o modo Simulação, do qual você terá mais detalhes nessa leitura. Quando comecei a escrever este texto, tinha a intenção de juntar os dois games numa só matéria mas, decidi fazer um review para cada um deles separadamente, deixando ActRaiser 2 para mais tarde. Percebi que ambos no mesmo post me daria um trabalhão e o texto poderia ficar beeeem maior do que já está. Imagino então, que alguém poderia me questionar o porque de eu não ir direto ao segundo game, ao invés deste que deu origem à série. O fato é que os méritos (e defeitos ) de cada um deles merecem uma discussão própria, já que para muita gente, ActRiser é apenas mediano, mas para a maioria absoluta, uma verdadeira obra de arte. Vamos relembrar então, um pouco do que é esta maravilha. Pra você que não o conhecia, seja bem vindo! Sempre há tempo para se redimir destes pecados gamísticos. Aos que já o conhecem, se “achegue” aqui e curta novamente.
2 em 1
ActRaiser foi um dos primeiros títulos a mesclar dois tipos de jogabilidade de uma forma super original, o que chamou a atenção principalmente dos orientais e adoradores de RPG. A idéia deu certo para muitos, mas não agradou a todos, claro. Um dos destaques, sem dúvida, você sente pelos ouvidos. Sua trilha sonora foi produzida por ele, o grande mestre Yuzo Koshiro (é, aquele mesmo de Streets of Rage!). Isso rendeu ao game alguns discos com suas composições, além do prêmio de melhor música de video game em 1993 pela EGM (Electronic Gaming Monthly). Aí você me pergunta: Mas Jeff, nem só de uma boa trilha sonora vive um game, certo? Verdade! Então vamos analisar um outro fato.
ActRaiser teve seu primeiro lançamento em dezembro de 1990 no Japão, 15 dias após o lançamento do Super Famicom. Logo depois outros países o receberam. Considere que pouquíssimos jogos conseguiram demonstrar o poderio gráfico e sonoro bem próximos ao limite do 16 bits da Nintendo. E isso, logo no início de sua existência. Mas a Quintet, produtora da série, conseguiu essa façanha (o game foi publicado pela Enix, atual Square Enix). Está certo que anos mais tarde Donkey Kong Country veio arrebentando tudo mas, na época de ActRiser, quem estava habituado com as limitações do querido NES, por exemplo, certamente liberou um grande suspiro ao ver a belezura toda que era o game. É claro que em 1993, ano de lançamento de ActRaiser 2, existiam muitos outros jogos interessantes disputando espaço e que já apresentavam qualidades visual e sonora melhorados. Ainda assim, o primeiro título, ActRaiser se destaca dentre os melhores games de sua geração, marcando presença em vários “Top alguma coisa”.
Você: O Manda Chuva
A história de ActRaiser é baseada em alguns fatos religiosos ou mitológicos, os quais tentaram omitir em algumas versões do game. Devido à censura da época (novidade…), a Nintendo Americana não admitia qualquer ênfase nisso. Provavelmente os caras conheciam o velho ditado que diz: “de religião, futebol e política, não se discute!” Essa medida evitaria acusações relacionadas a qualquer conteúdo que pudesse ser considerado ofensivo aos interessados de plantão. O resultado disso é que, onde deveriam aparecer deus e satan, são utilizados os nomes de Master e Tanzra (também citado como The Evil One, ou Maligno), referindo-se ao protagonista e antagonista, respectivamente. Você é um deus, cujo papel é cuidar das cidades, e proteger as pessoas de todo o mal. Como dizem por aí, qualquer semelhança com o mundo lá fora, é mera coincidência… Segue o resumo do texto, presente no manual de Actriser. Diz mais ou menos assim:
…Master mantinha o mundo num estado de paz e harmonia. Porém, o maligno chamado Tanzra começou a ameaçar toda a sua existência. As pessoas passavam suas vidas manifestando o seu amor pelo Master, ao mesmo tempo temendo o Maligno. Master e Maligno foram eternos inimigos. Em força e poder eles eram quase iguais.
Invasão e destruição eram os únicos objetivos de Maligno. Dominar o mundo era seu único desejo. Contudo, Maligno não podia destruir Master. Ele ordenou seus seis poderosos guardiões, para destruir Master e assim dominar o mundo. Ainda assim, o mundo permanecia em estado de paz, embora o equilíbrio das forças caminhavam para o lado das trevas.
Um dia, Maligno e seus Guardiões apareceram repentinamente aos portões do Palácio do Ceu. Master, conhecendo a intenção de Maligno, começou a lutar bravamente, ignorando sua própria vida. A batalha durou vários dias, onde Master foi gravemente ferido e, refugiando-se em seu Palácio, levantou uma forte barricada como proteção. Para se curar dos ferimentos, Master entrou em um longo e profundo sono, quando sua presença e poder desapareceram.
Maligno dominou o mundo. Dividindo-o em seis partes, passou o controle de cada região para seus respectivos guardiões.
Vários séculos depois, Master despertou de seu sono. Apesar de estar completamente curado de seus ferimentos, Master se viu sem poder, quando o último de seus fieis súditos havia se rendido às forças do mal.
Inspirado pelo mínimo de esperança, Master resolve batalhar contra o Maligno, afim de restaurar a paz e a ordem. Depois de se preparar, Master desceu de seu protegido Palácio no Céu e, silenciosamente começou a missão de acabar com o domínio de Maligno.
Ficando forte…
Ao acordar de seu sono, você é abordado por um Anjo que se diz enviado para ajudá-lo. Ele afirma que o seu poder será restaurado quando você reacender a Fé das pessoas. Por esta razão, existe a necessidade de cuidar de fato das civilizações pois, quanto maior ela for, maiores as suas chances de executar certas habilidades. Fica evidente que é com o aumento de sua experiência e de elementos como HP, MP e SP, que Master conseguirá enfrentar o Maligno mais adiante. Até mesmo sua pontuação obtida no modo Ação, influenciará na quantidade de almas que mais tarde se tornarão habitantes das cidades que você ajudou a construir. Portanto, destrua o maior número de inimigos que puder no menor tempo possível.
A jogabilidade se divide em dois modos: Simulação (onde se desenvolve as cidades) e Ação, quando o jogador “desce a lenha”, na corja de inimigos. Cada área traz duas sequências de ação em side-scrolling. Uma antes e outra após o modo simulação. Se você jogou versões diferentes do game e não notou diferença ou mesmo pretende jogar ActRaiser pela primeira vez, precisa saber o seguinte:
Na versão japonesa do game, o modo Ação é mais difícil e o tempo de jogo no modo Simulação passa mais devagar, que por consequência exige que mais inimigos sejam destruídos para se completar a área (japonês adora essas coisas não é?). A versão americana, além de mais fácil de maneira geral, libera um nível de dificuldade maior ao se completar o game. O lançamento na Europa só veio em março de 1993. A produtora resolveu entregar o jogo com algumas alterações. Assim, a versão europeia, desde o início permite ao jogador escolher o nível de dificuldade, além de poder optar pelo jogo completo – modo Story ou somente o modo Action, onde não ocorrem as simulações. Fica aí a dica para os jogadores casuais ou não adeptos ao estilo Sim City. Uma versão modificada do game foi liberada para “arcade” (Nintendo Super System) onde obviamente, o modo simulação não existe. Esta é bem mais difícil que todas as outras.
Simulando
É no modo simulação que você tem a visão de cima das cidades e utiliza o tal Anjo para executar as ações. É onde deverá usar os seus poderes ou milagres como Vento, Chuva, Terremoto, Sol e Relâmpago para expandir o terreno ou destruir inimigos bisbilhoteiros. De início só será possível eliminar apenas alguns arbustos, pois seu limite de SPs não comporta quantidade suficiente para executar outras magias, senão a de Relâmpago. Ao destruir os inimigos no mapa, aumentará seus pontos de Magia. Se o Anjo tomar muitos golpes destas pestinhas, ficará momentaneamente sem poder atirar suas flechas.
Com os poderes certos, cadeia de montanhas ou vegetação podem ser varridos do mapa, para que se possa ampliar os limites das cidades e campos de cultivo. Terá também de fazer chover nos campos para que tudo frutifique, ou usar o Sol para derreter neve por exemplo. O Anjo lhe dará as dicas do que é necessário, conforme o desenrolar de suas ações. O mesmo ocorre com os habitantes, quando estão precisando de uma mãozinha. Você poderá bloquear os poços de onde saem os monstrengos voadores que te infernizam o tempo inteiro. Para isto terá de fazer com que as construções cheguem até eles. Com os poços fechados, sua população terá mais tempo para criar estruturas mais complexas que possam abrigar mais pessoas. É claro que, quanto maior fica a sua cidade, mais trabalho terá para administrá-la. Esta etapa chega a ser mais desafiadora que o modo Ação.
Se você é do tipo que gosta de aproveitar o game ao extremo, precisa aprender sobre como evoluir bem. A forma de expandir as cidades podem ajudar ou atrapalhar o crescimento da população. Procure preencher o mapa o máximo possível. Se tiver oportunidade, será necessário até mesmo destruir o que já foi criado, como casas de Level 1 ou 2 e plantações de milho, substituindo-as por casas de Level 3 e plantações de trigo respectivamente.
Não menos importante, não deixe de ouvir o que as pessoas tem a dizer. Algumas vem pedir ajuda, outras porém, trazer-lhe oferendas. Algumas dessas oferendas podem ser muito úteis. Deu pra notar o quanto as coisas dependem de você? O modo Simulação nada mais é do que um game de estratégia focado no enredo do game. Este estilo de jogo existe aos montes nos dias de hoje, como Age of Empires ou Halo Wars, por exemplo. Porém, em ActRaiser ele é bem mais simples, como nos primeiros games da série Harvest Moon.
Você em Ação
Bem, acredito que a maioria de nós prefere infinitas vezes mais, jogar o modo Ação. É fato que o pessoal de olhinhos puxados amam os dois modos e talvez alguns até prefiram a Simulação. Isso acontece com pessoas normais também, certo? Vai de cada um. (japas, foi só uma brincadeira…).
É no modo Ação que Master envia seu espírito para uma estátua que é controlada por você. A jogabilidade lembra um pouco o clássico Castlevania. Você faz uso de uma espada que, em certos momentos, poderá atirar magias durante os golpes. Master também pode utilizar magias independentes, que precisam ser coletadas pelo cenário. Neste modo é possível notar que alguns inimigos demandam mais de um hit para serem destruídos, conforme a dificuldade escolhida.
Como dito no início do review, os gráficos são um dos destaques do game. Não há como ignorar que, por ser um dos primeiros jogos do console, já demonstrava o capricho dos produtores. A quantidade de inimigos na tela é moderada e não traz grandes complicações, mesmo jogando na dificuldade máxima. A jogabilidade não é ruim mas poderia ser melhor, principalmente com relação aos movimentos do personagem. Mas é simples e intuitiva, o que agrada os mais saudosistas.
Confesso que gostaria de ver algumas megas explosões e inimigos mais “cabeludos” durante as fases, mas por ser um dos primeiros trabalhos nessa plataforma agente perdoa, né?…Você perdoaria? Como ocorre em muitos jogos, sua barra de energia vai aumentando conforme itens específicos são coletados, somados ao seu avanço no game. As fases são relativamente curtas deixando um gostinho de quero mais.
O que muitos poderão notar é que os chefes das fases não são tão desafiadores quanto poderiam. De certa forma são até fáceis de mais para alguns.
O modo simulação pode não ser o preferido de muitos, mas jamais poderia citá-lo como um ponto fraco, já que faz parte da essência do jogo. Outro detalhe que alguns poderão discutir, é o fato da evolução no modo Simulação não influenciar no final do game, ou pelo menos premiar o jogador com algo realmente compensador, a não ser permitir que o cara encha o peito e diga que fez 100% em todas as áreas. Para o jogador menos empenhado, isso acaba induzindo-o a ficar apenas no feijão com arroz, até chegar ao final do game. Ao se optar por jogar o game completo, percebe-se que um modo de jogo está totalmente ligado ao outro, ou seja, não é possível partir para o modo Ação pela segunda vez sem ter completado o mínimo de objetivo na Simulação. Da mesma forma, ao adentrar numa nova área, precisará eliminar inimigos no modo Ação, para que se possa iniciar as construções das casas no modo Simulação.
A impressão que fica…
Se você não jogava ActRiser porque não entendia bulhufas nenhuma do que era pra ser feito, já não tem essa desculpa. Acredito que várias pessoas deixaram de desfrutar melhor o game quando se depararam com a Simulação. É claro que o idioma ainda pode dificultar as coisas para alguns, não é mesmo? Mas o game não possui textos complexos e é perfeitamente possível entender os objetivos a cumprir. Eu assumo que gostei de ter jogado o modo Simulação novamente e, me diverti mais agora do que no passado, mesmo não dando tanta ênfase a ele.
O jogo poderia ser mais longo e principalmente mais desafiador. No geral ActRiser garante algumas horas de diversão, além de ser agradável de ser jogado. Você também pode optar pela versão europeia, caso não curta a ideia de ficar criando e evoluindo as civilizações, além de poder escolher um nível de dificuldade maior desde o início. É claro que, não jogando o modo simulação, você não vai sentir o drama das pessoas, ainda que isso não influencie no final do game. Se você prefere o modo ação, certamente vai gostar de saber que em ActRaiser 2 o outro modo não existe.
Bem, é isso aí pessoal. Este review está terminando. Agora, meus caros retroaventureiros (Copyright 2009 by Sabat), não se esqueçam de deixar o seu valioso comentário. Gostaria que fosse compartilhada a vossa opinião, tenha você jogado ou não. Espero vê-los no review de continuação da série. Ainda não sei quando será, mas tenho interesse em fazê-lo.
Grande abraço e obrigado pela leitura!
Ah! Detalhe: eu não bebo cachaça!
Até a próxima!
Fim
O Jeff é veterano que começou a jogar games com um Bit System. Ele ama jogos 2D. Criterioso e saudosista, adora os jogos de Nintendinho. Atualmente sua plataforma principal é um PCgamer, Mas jogar é com ele, não importa se num console da Sega, Sony e assim vai!