RetroReview: Castle of Illusion – Mega Drive
Muitos anos atrás, antes mesmo de comprar o meu saudoso Mega Drive, eu já finalizava alguns games jogando por tempo na locadora perto de onde eu trabalhava, tempo este que se estendia por uma ou duas horas de almoço. Nada como não ter hora para voltar ao escritório depois de uma manhã cansativa de entregas pelo centro da cidade… Pois é, vida de Office Boy tinha suas vantagens!
Tenho saudades desta época de poucas responsabilidades. Tudo era mais simples, bastava eu cumprir com minhas poucas obrigações profissionais e todo resto acontecia sem muito esforço. O dinheiro até sobrava devido às minhas traquitanas na hora de somar os gastos com as conduções do serviço, e era parte dessa bufunfa que eu deixava todo dia nas mãos do dono da locadora sem a menor cerimônia. Também pudera, a prateleira cheia de jogos de Mega Drive do estabelecimento era simplesmente irresistível!
E foi lá que eu joguei muitos dos games mais marcantes de minha vida, jogos que as vezes não deixaram lembranças tão boas só pela qualidade de cada um, mas sim por que lá eu tinha plateia, tinha gente torcendo e comentando, dando pitaco, às vezes até o dono da loja me dava tempo de graça para que eu terminasse determinada fase, ou até mesmo “salvasse” o jogo, que era o termo que eu utilizava naquele tempo para quando eu “fechava” ou “finalizava” um game.
Pensando bem acho que até o dono torcia por mim, pois ele sempre demonstrou ser um cara que realmente gostava de videogames, senão, por qual outro motivo ele me daria meia hora de graça só pra ver eu terminar Castle of Illusion?
Castle of Illusion, o camundongo no Mega Drive
O game do camundongo da Disney desenvolvido pela SEGA em 1990 era um verdadeiro colírio para os olhos, uma mescla perfeita de visual, trilha sonora e jogabilidade que encantava qualquer um que passasse por perto de alguém jogando, e naquela locadora não era diferente.
Muitos entravam lá pra jogar por tempo ou para alugar algo, e acabavam deixando essa intenção de lado enquanto assistiam o Mickey passar fase após fase em busca do covil da bruxa Mizrabel, que havia sequestrado Minie Mouse na intenção de roubar a sua beleza. É bem simpática a ratinha né? Encanta crianças do mundo todo até hoje!
O negócio é que eu, todo o santo dia por mais ou menos uma semana, entrava naquele estabelecimento exclusivamente para jogar Castle of Illusion por pelo menos uma hora, e foi lá que eu terminei o game pela primeira vez na minha vida. Lembro que no dia anterior eu havia chegado na Mizrabel só pra tomar uma surra de seus fantasminhas giratórios, coisa que me fez voltar para o escritório bufando de raiva e que me rendeu um mau humor daqueles bem notáveis pro resto do dia.
Naquela nova tentativa eu não queria chegar mais uma vez nela só para tomar outra cacetada… E eu a enfrentei novamente, e a batalha foi ferrenha.
Eu já havia jogado a versão de Master System, jogo que por sinal, foi o primeiro que eu terminei na vida (ainda vou contar essa história), só que ambos os games são muito diferentes, a mecânica de cada um é única, e de igual eles só tem mesmo o protagonista, a trilha sonora, e o tema em que cada fase se baseia. Para mim, a versão de Mega Drive estava sendo uma experiência nova, mas nostalgicamente familiar.
Não me lembro se cheguei a alugar alguma vez o game após ter comprado o meu Megão, mas apesar de saber que o jogo é excelente, a verdade é que hoje, 23 anos após o lançamento do game, eu já não conseguia mais me lembrar do que me fazia adorar tanto aquela aventura. A gente lembra das sensações, sabe que é bom, que é um clássico, mas… por quê? Eu já não me recordava de nenhum detalhe do game fora a trilha sonora.
Eu tinha uma recordação muito leve da temática de algumas etapas, sabia que o Mickey atirava maçãs e atacava com bundadas, e só. Caros amigos retroaventureiros, quando isso acontece, a solução é simples: jogar novamente! Foi o que eu fiz, e meu Deus, como Castle of Illusion é maravilhoso!
Como pode um título de mais de 20 anos ser tão bom e agradável a ponto de parecer um jogo recém lançado? Castle of Illusion starring Mickey Mouse, pra dizer o nome completo da coisa, é uma daquelas obras que só se consegue fazer uma vez na vida, daquelas que não adianta lançar continuações e remakes pois não tem como estes serem tão bons, marcantes e especiais quanto o original… Nunca serão, jamais serão!
Bom como nunca!
Basicamente, estamos falando de um plataforma side scroll de ação/aventura com contagem de pontos como era de praxe para a época, contador de vidas e três generosos continues, jogabilidade simples e suave, gráficos lindos, e uma trilha sonora épica.
Neste curto relato não notamos muita diferença do que víamos dentre os melhores jogos da época, mas nos anos 90 era assim mesmo: o que definia o valor de um jogo era o quão capaz de nos fazer viajar ele era, e para isso, era necessário por o cartucho no aparelho e comprovar por conta própria o que as conversas entre amigos, os comentários nas locadoras, e principalmente aquele monte de revistas da época diziam a respeito do título. Em se tratando de Castle of Illusion, é assim que começa a mágica.
Da abertura ao final do jogo, o que se vê é um espetáculo de criatividade! Todas as fases do game foram lindamente criadas com base em temas muito distintos, nada é igual, não existe repeteco, e o capricho em cada detalhe gráfico é algo que surpreende demais para a época.
Apesar de usar poucas camadas de profundidade (Parallax, muito utilizado no Mega Drive) e de não possuírem um design muito complexo, a variedade de situações inusitadas que as fases do jogo nos apresenta compensam esta simplicidade, e a ação e a exploração acabam se unindo de maneira única.
Enquanto jogava novamente o título, logo na segunda etapa da primeira fase, me bateu uma sensação de que em um daqueles buracos onde tem cipós, existia algo secreto, e eu comecei a cair neles e realmente tinha algo lá escondido para ser encontrado, e logo a frente desci um barranco correndo desesperadamente para evitar que uma maçã gigante esmagasse o camundongo.
Assim são as coisas em Castle of Illusion, hora exploramos, hora tentamos sobreviver aos desafios que o Castelo das Ilusões nos impõe.
Castle of Illusion é relativamente curto: são 5 etapas iniciais divididas em duas ou três sub-fases que escondem 7 gemas mágicas. Estes são os objetos que o camundongo deve coletar para poder abrir caminho até a torre de Mizrabel, que constitui a derradeira etapa do jogo.
Obviamente, cada uma destas fases tem um chefe nos aguardando no final, alguns deles muito fáceis, outros moderadamente difíceis, como o Dragão da garrafa de leite… Ô bicho chato!
Num todo posso dizer que o jogo é moderadamente difícil, daqueles que requerem treino e alguma dedicação, pois não é de uma hora pra outra que nos tornamos mestres na arte de acertar bundadas nos inimigos, e as maçãs que atiramos são poucas e não tem a mesma eficiência. Acho que em termos de dificuldade, a pior coisa do jogo são mesmo os terríveis Buracos Sem Fundo, que aqui existem aos montes e podem ser bem frustrantes pois funcionam do jeito antigo: caiu morreu, bem diferente do remake bonzinho onde eles só tiram um ponto de energia como penalidade.
Jogadores experientes terminam Castle of Illusion na terceira ou quarta tentativa, mas há quem diga que penou por meses para terminar! Vai tudo da habilidade e da insistência, pois a recompensa é certa: um final digno de um excelente jogo.
Mas se você é um jogador meia boca que vai ver a tela de Game Over umas 30 vezes antes de conseguir fechar o jogo, saiba então que você é na verdade um grande felizardo, pois o seu tempo de exposição a uma das mais maravilhosas trilhas sonoras de game já criadas será bem maior!
Castle of Illusion tem algumas das mais belas e memoráveis músicas já criadas para um jogo, do tipo que se tornam inesquecíveis, e que trazem à mente a lembrança da fase em questão mesmo que já tenham se passado décadas! É uma das minhas 3 favoritas de todo o sempre, ao lado das de Mega Man 2 e Sonic the Hedgehog.
Ouvi-las de novo foi um prazer imensurável. Como o jogo não tem marcador de tempo (sempre detestei isso nos games), por muitas vezes eu soltava o controle e deixava o Mickey lá requebrando enquanto eu ouvia as músicas por vários minutos, que delícia! Não é à toa que o que eu mais gosto no remake do jogo são as músicas originais remasterizadas: ficaram lindas, e para mim, aquele jogo nunca seria um remake decente sem elas.
Em fim, Castle of Illusion é um clássico!
Joguei Castle of Illusion starring Mickey Mouse como se fosse a primeira vez, e como foi maravilhoso desenterrar da minha mente tudo aquilo que eu já conhecia sobre ele. A cada fase, um sorriso novo, a cada chefe derrotado, a sensação de vitória, e assim eu fui até o final do jogo, atingido após a quinta tentativa, mais ou menos o mesmo tempo que eu levei para terminar lá na locadora mais de 20 anos atrás.
Esse jogo poderia facilmente ter se tornado uma animação da Disney… Até hoje não sei o motivo disto não ter acontecido, pois Castle of Illusion é tão clássico quanto qualquer obra cinematográfica da empresa e tem um enredo mais legal que metade deles! Foi um dos maiores ícones do Mega Drive, o típico jogo brilhante que se torna obrigatório para quem tem o console, que cativou milhões de pessoas na década de 90 e continua cativando até hoje.
Eu fui uma delas, naquela locadora jogando por tempo, com aquele monte de gente me vendo chegar ao fim da aventura pela primeira vez: sim, a batalha foi ferrenha, mas por fim, venci a bruxa e resgatei a namorada do camundongo, uma sensação tão boa de conquista que eu mal podia escutar os aplausos atrás de mim… Tá, essa parte dos aplausos é mentira, mas o enorme sorriso na minha cara não negava que havia sido um belo de um final feliz pra todo mundo. Até para o dono da locadora.
Fim
Assista também a Vídeo análise Castle of Illusion no Youtube
O slogan do antigo RetroPlayers ainda vale pra mim: “também to morto mas tô aí!”
E muito bem acompanhado =)