O nome do cara é Sandro Luiz de Paula, está escondido neste momento em Ipatinga, MG e, sozinho, ele foi o responsável por desenvolver quase que em sua totalidade, um jogo que literalmente me transportou para dentro das cabinas hidráulicas dos arcades de corrida do final dos anos 80 e comecinho dos 90.
Mas, em matéria de velocidade frenética, o quê que tinha nos arcades desse meu Brasil naquela época de ouro? Basicamente, Chase HQ, Out Run e Rad Mobile ditavam o ritmo das curvas com toneladas de sprites se sobrepondo infinitamente enquanto o cenário se montava a uma velocidade absurda. Era um espetáculo visual que me deixava maravilhado ao mesmo tempo que acabava com meus créditos do cartão Playland… quem se lembra do cartão Playland? Tempo bom!
Rad Mobile e Out Run, clássicos absolutos dos jogos de corrida
Sucedendo esse período, começaram a pintar os primeiros arcades de corrida Full 3D, com representantes como Virtua Racing, Daytona e Ridge Racer, que traziam novas propostas visuais e iniciaram uma nova era do automobilismo virtual. Mas é fato que aquelas maravilhas spriteadas ficaram na memória de muita gente das antigas, criando aquelas lembranças que nos fazem dizer “no meu tempo era muito melhor”… e era mesmo, pois jogar um game de arcade fantástico como aqueles num lugar lotado, dentro de uma cabina hidráulica que simulava um carro que tombava para os lados nas curvas com toda aquela gente admirando a sua habilidade no volante era algo realmente especial!
Mas eis que agora, tanto tempo depois, sou agraciado com a obra de um brasileiro devorador de pão de queijo que atende pelo nome de ANSDOR, e que cria e publica seus próprios jogos sob este mesmo nome, ou pelo menos era assim antes de Slipstream sair dos PCs para chegar aos consoles atuais. E se pensarmos que Slipstream, com exceção da sua trilha sonora, foi desenvolvido por uma única pessoa, então ele se torna digno de aplausos: uma mistura de Rad Mobile com Out Run que culminou em um game de corrida frenético, viciante e com toda a cara de arcade de corrida daquele período épico.
Slipstream é daquele jeito mesmo: milhares de sprites passando pela tela em altíssima velocidade montando o cenário ao redor das pistas sinuosas e cheias de curvas fechadas que sempre nos obrigam a jogar o carro de lado para aplicar aquele drift (derrapada ou cavalo de pau para os mais velhos) que vai nos permitir terminar a curva pra já entrar em outra logo à frente. Sensação de altíssima velocidade é constante enquanto realizamos ultrapassagens e pegamos o “vácuo” dos rivais (a mecânica que dá nome ao jogo) para aumentarmos muito a velocidade do carro e garantir uma “rebobinada no tempo” de vez em quando. Sim, em Slipstream é possível voltar alguns segundos no tempo para reverter aquela singela braçada! O restante são um monte de pistas (muitas delas baseadas em clássicos da SEGA) pra gente desfrutar em vários modos de jogo e dificuldades diferentes.
São 5 carros apenas no jogo, todos com visão padrão 3ª pessoa de trás do carro, como o próprio Out Run ou Top Gear. Preciso dizer que nesta parte, senti falta de um modo de visão de dentro do carro, adoro isso! Cada carro tem suas peculiaridades ligadas sempre à velocidade e direção, e no modo Grad Prix, temos a opção de disputar as copas em corridas que valem dinheiro, que pode ser gasto em melhorias para os carros, bem no esquema do clássico Top Gear.
Sou suspeito pra falar de pixel art… quem me conhece sabe que eu não abro mão de um bom e velho joguinho 2D! Mas, preferências à parte, Slipstream me surpreendeu: era mais bonito do que eu imaginei quando conheci o game. Claro, a repetição de sprites pode incomodar e seria verdade dizer que cada pista / circuito poderia ter uma variedade maior de elementos se repetindo nas laterais. Mas isso não derruba o game não, que trás belos cenários de fundo e muita saturação de cor pra tudo ficar com aquela cara de verão quente.
Slipstream é um jogo bem completo e que, apesar de não ser muito difícil, realmente enche os olhos e diverte muito! Uma jogatina full não vai exigir mais que 7 ou 8 horas do piloto, um pouco mais se ele decidir pegar todos os troféus do game, que por sinal, são bem acessíveis e sem pré requisitos absurdos. Eu demorei umas 9hs para pegar todos! 9hs muito prazerosas e quase sem nenhum estresse.
E o game está disponível em tudo que é plataforma a preços variados, vai da sua preferência mas considere dar uma ajuda ao desenvolvedor nacional. Moramos em um país onde as coisas são difíceis, e por isso não podemos deixar de privilegiar o trabalho quando é bem feito. Jogue Slipstream, vale muito a pena!
Fim.
O slogan do antigo RetroPlayers ainda vale pra mim: “também to morto mas tô aí!”
E muito bem acompanhado =)