“RISE FROM YOUR GRAVE!”, esta foi a ordem que muitos jovens seguiram ao ganhar seu Mega Drive e experimentar Altered Beast, o jogo que vinha junto do console e que chamava a atenção por ser um título até então encontrado apenas em fliperamas. Seus gráficos eram muito chamativos para o final dos anos 80, e a sua temática inspirada na mitologia grega deixava os jogadores curiosos. Altered Beast com certeza foi um título que ajudou a reforçar a idéia de que o Mega Drive era um verdadeiro “Fliperama em casa”!
Diferente das maioria dos segamaníacos, meu primeiro contato com Altered Beast não aconteceu no início da década de 90, mas sim em um emulador de Mega Drive chamado PGEN, que consegue a “façanha” de executar grande parte da vasta lista de jogos do Mega no PlayStation 2 com uma excelente taxa de quadros. Minha primeira partidinha foi frustrante: eu não consegui me adaptar aos controles excêntricos de Altered Beast e ganhei uma tela de Game Over antes mesmo de saber sobre o que o jogo se tratava. Insisti mais algumas vezes no dia seguinte e fiquei deslumbrado com o “climão” sombrio do jogo, que usa e abusa da Mitologia Grega, mas não cheguei nem a saber que o personagem sofria transformações.
Entretanto, após dois meses de muitas tentativas e frustrações, na trigésima sétima tentativa, consegui finalmente vencer o último mestre (Sim, eu chamo os “Chefes” de “Mestres“) em sua forma de Rinoceronte e saí gritando de felicidade enquanto uma amiga olhava para mim assustada. Pois é, acho que é por essas e outras que a mulherada não anda me dando muita bola, rs…
A tarefa de chegar no último estágio foi árdua e cansativa, principalmente pelo fato da tela possuir uma movimentação fixa em todas as fases e pela jogabilidade “pesada“, o que torna a missão de acertar um inimigo muito mais difícil.
“Mas então Macho Gamer, pra que é que você está recomendando um jogo TÃO Arcaíco assim?” Bem, o engraçado é que embora o desafio de Altered Beast consista em decorar o momento em que cada inimigo irá surgir na tela, eu estava me divertindo muito enquanto apanhava e recomeçava o jogo desde o renascimento do herói! E não, eu não sou masoquista: o “lance” é que a graça de Altered Beast está justamente em INSISTIR, INSISTIR E INSISTIR MAIS UM POUCO! Isso é que é JOGO PRA MACHO!
E mesmo sendo um jogo originalmente lançado para Arcades, a Sega conseguiu converter o game de maneira quase perfeita para o seu console de 16 Bits, e embora o Mega Drive não conseguisse reproduzir efeitos de ‘Zoom” da versão original, a empresa de Alex Kidd já possuía uma vasta experiência com conversões difíceis, e por isso compensou colocando um efeito de Parallax fulminante nos cenários da versão doméstica (efeito que se tornou muito comum, e que consiste em imagens sobrepostas que se movimentam em velocidades diferentes usadas para criar sensação de profundidade nas telas. Sabe aquele fundo bonito que se move separadamente do plano em que o personagem anda? É aquilo!), além de ter tornado a dificuldade do game mais balanceada, permitindo ao jogador concluir o desafio contido em Altered Beast com um único continue, fato que era quase impossível na versão “come fichas” dos fliperamas. Tudo aquilo que fazia de Altered Beast um clássico estava nessa versão, como os cenários belíssimos e as transformações bestiais. Aliás, melhor eu comentar logo o enredo do jogo!
Basicamente um soldado é ressuscitado por Zeus e recebe a ordem de salvar Perséfone das garras de Hades, o imperador do submundo (e não do crime). Com esse enredo bem parecido com o da série de animes “Cavaleiros do Zodíaco” (Saint Seya – 1986), a Sega teve a brilhante ideia de colocar metamorfoses bestiais no protagonista, fazendo jus ao nome do game. Ao destruir um lobo branco de duas cabeças, o soldado toma uns esteroides gregos coleta um Power-up que o deixa mais forte, e ao se coletar três destes, o herói transforma-se numa besta horrenda, aniquilando todos os inimigos e ganhando força suficiente para, ahm, como diz o grande Gil Brother, “DEITAR O HADES NA PORRADA“!
Os cinco estágios (Cemitério; Zona Abissal/Subterrânea; Caverna/Gruta; Templo; Mundo dos Mortos/Inferno) possuem músicas muito marcantes, e embora não sejam muito “ousadas“, são daquelas que a gente sai assoviando duas décadas depois. Elas cumprem o seu papel de maneira épica, proporcionando ao jogador várias emoções e sensações como medo e tensão até o encontro derradeiro com Hades. Graficamente, Altered Beast saltava aos olhos do jogador: Era maravilho poder jogar um game que só era encontrado em fliperamas no conforto do sofá. Os cenários são riquíssimos de detalhes, com várias referências artísticas, o que colabora ainda mais com o mistério presente no game. As vozes digitalizadas eram um espetáculo à parte: Ouvir frases como “RISE FROM YOUR GRAVE!” e “WELCOME TO YOUR DOOM!” em um tempo onde os jogadores estavam acostumados com sons mais simples só reforçava o poder do console de 16 bits da Sega.
Altered Beast pode não ser um jogo tão “convidativo” como outros do console de 16 bits da Sega, mas as suas peculiaridades fazem dele um título quase obrigatório, mesmo para aqueles que, como eu, não tiveram a oportunidade de jogá-lo no próprio Mega Drive. Uma coisa muito comum hoje em dia é o jogador torcer o nariz para a jogabilidade lenta e arcáica que ele encontrará pela frente ao jogar este título, mas os mais velhos garantem: o charme e a diversão que transformam Altered Beast em um grande clássico, está lá no final da década de 80, a época de ouro em que estes barbados rabugentos costumavam dizer que o Mega Drive era um verdadeiro… fliperama em casa, sim senhor.
“RAIS FONORGREI!”
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Agilista, Dev e Gamer. Redator do Retroplayers desde a adolescência até o começo da vida adulta. Saiu para encarar os desafios do mundo do trabalho. Escreve atualmente no Homão de Ferro!