Como eu disse anteriormente (mais precisamente na parte #6 deste especial, onde o shmup da vez foi o bom e mau aproveitado Arrow Flash), dois jogos me trazem lembranças marcantes de muitas horas em dias repetidos de jogatina ainda nos primórdios do console negro da Sega no Brasil, dois jogos que eu terminava vezes seguidas sem enjoar, e é chegada a hora de eu falar deste segundo título, que por sinal, é tão mal aproveitado quanto o primeiro. No início da geração 16 bits, uma premissa que a SEGA utilizava muito (fora o clássico SEGA DOES, NINTEN’DONT!) era o de que comprando um Mega Drive, você estaria levando um arcade pra dentro de sua casa. E era bem isso mesmo o que acontecia: tudo o que era arcade comedor de fichas da SEGA pintava no Meguinha em uma versão de qualidade bem próxima à original, e as vezes, até alguns jogos que não eram da fabricante se aproveitavam da velocidade do hardware do aparelho para pintarem também no console.
Foi o caso de Burning Force, arcade da Namco de 1989, época em que a empresa japa atendia também pelo nome de Namcot (nome dado pela Namco em meados de 1983 à sua recém criada subdivisão de jogos caseiros, que seria responsável então pela produção e adaptação de games primeiramente para Famicom e MSX), que trazia no comando das ações uma garota aspirante a piloto especial da federação estelar, Hiromi Tengenji, que tentava provar que merecia o cargo por meio da difícil missão que ela estava para realizar: sobreviver a 6 dias de um intenso treinamento de pilotagem em combate. A premissa do game era apenas essa, mas convenhamos, a época não era muito propícia a enredos ricos e detalhados, e muito menos a gente precisava disso para nos sentirmos motivados a meter bala em alvos móveis hostis.
O game possuía uma jogabilidade muito semelhante a do clássico Space Warrior, ou seja, Burning Force era um On Rail Shooter, uma subdivisão dos shmups, onde nosso ponto de visão fica atrás de nosso veículo (como em um FPS), que avança por sua vez para o fundo da tela, de onde vem os inimigos. Não entendeu, caro amigo retroaventureiro? Então eu vou dar mais alguns exemplos de On Rail Shooters: Star Fox para SNES é um belo exemplo, Galaxy Force II é outro, After Burner também, etc! São todos jogos onde a câmera está posicionada atrás da aeronave/espaçonave, que se dirige para o fundo rumo a um destino preestabelecido. Essa vertente dos Shmups foi muito popular na década de 90, mas hoje infelizmente está quase em desuso. São pouquíssimos os jogos mais atuais que podem se enquadrar nesta categoria, como Sin and Punishment Star Successor para Nintendo Wii, que possui várias etapas neste estilo, ou o próprio reboot de After Burner para XBLA.
Burning Force para Mega Drive é um game legal, um bom exemplo de On Rail Shooter. Seu funcionamento é bem simples, tanto que chega a ser até um pouco repetitivo, mas como o game não é longo, isso não chega a incomodar. Suas fazes correspondem aos dias de treinamento, e são sempre divididas em 4 áreas, sendo as três primeiras as missões em si, e a última nada mais que um estágio bônus. Hiromi começa a área 1 de cada dia sempre pilotando uma jet bike que só se move da direita para a esquerda enquanto avança para o fundo da tela detonando as aberrações robóticas que vão pintando. A sensação de velocidade ocasionada pelo efeito aplicado ao chão é muito interessante de se ver, algo até surpreendente para a época, e que ajudava muito a disfarçar a simplicidade do grafismo geral do game, obviamente inferior ao do original para arcades, mas não o suficiente para que o port não fosse considerado visualmente bom. Quanto ao povão brasileiro, podemos levar em conta o fato de que se o arcade Burning Force chegou a aparecer no Brasil, então isso foi tão raro que quase ninguém o viu (nem eu, que frequentei muitas Playlands), e portanto, ninguém pôde fazer porcaria de comparação alguma!
Sempre no início da área 3 de cada dia, a motoca recebe um upgrade que torna possível a partir de então, voar pela tela toda, forma esta que se mantém na quarta área, e essa é a mecânica básica do game, que se repete até seu final.
É notável logo de início a grande variedade de inimigos do game, e a quantidade com que eles aparecem e vão entupindo a tela é de fazer inveja a muito shmup por ai! Eles são compostos por vários sprites que vão se alternando para causar um efeito de aproximação bem competente, coisa muito bem executada pelo hardware do Mega Drive inclusive nos chefes: enormes, pequenos, bizarros, psicodélicos, mas sempre presentes no final das três áreas iniciais de cada dia. A quarta área consiste apenas em voar recolhendo um monte de esferas pela tela de modo conseguir uma ou outra vida extra com a pontuação obtida, coisa que pode dar uma bela facilitada na missão da garota, e assim, o dia termina para que um outro comece, novamente com a jet bike em seu estado inicial de motoca sem asas. Esse padrão só muda mesmo na última fase, composta somente de duas áreas sendo a primeira, uma fase espacial sem chefe, e a segunda, a épica (ou não) e longa batalha contra o último inimigo do game.
A peleja é divertida, principalmente por que a trilha sonora do game é muito boa e a ação é ininterrupta! Esta combinação é sem dúvida o ponto mais forte de Burning Force: a jogabilidade rápida e os comandos simples ajudam muito a manter o bom ritmo que o jogo apresenta, enquanto a trilha sonora magistralmente portada do Arcade faz o serviço de manter o negócio empolgante na medida do possível. É muito interessante ver como alguns compositores conseguem fazer tanto com tão pouco… Enquanto algumas trilhas no Mega Drive sofrem com os agudos e barulhinhos estridentes simplesmente por que alguém não soube fazer a coisa direito, alguns outros jogos usam essa peculiaridade a seu favor para criarem melodias ótimas, que as vezes nem parecem estarem saindo de um console com potencial sonoro nitidamente abaixo da concorrência. Burning Force é um exemplo de trabalho bem feito, adoro a trilha sonora deste game!
Enquanto avança pelo cenário, Hiromi pode recolher dezenas de itens que permitem trocar de arma (que mantém a velha máxima do maior alcance = menor poder destrutivo), aumentar o poder de fogo delas e o número de bombas que a jet bike carrega, e ainda utilizar um poder especial que deixa a garota indestrutível por algum tempo, indispensável para se vencer alguns chefes encardidos com mais facilidade, e para pegar estes itens, a regra é atirar em tudo que aparecer pelo cenário, seja um inimigo doido pra te ferrar, ou uma árvore inocente que não deveria estar no seu caminho… Azar dela, reclamem com o Green Peace. É possível ainda aumentar ou diminuir a velocidade da jet bike pressionando-se cima ou baixo no direcional, e isso é primordial para que seja possível recolher estes itens, assim como para em muitas vezes, escapar de enrascadas ou saltar em rampas de energia que permitem pegar coisas no ar, isso tudo só possível nas áreas 1 e 2 de cada dia, quando a jet bike ainda não voa.
Por sinal, eu gosto muito mais do game quando a motoca está na sua forma terrestre… A jogabilidade flui melhor, a diversão é maior, as rampas de energia são legais e a gente acaba esperando que elas apareçam sempre, e fica a impressão de que elas seriam bem melhor aproveitadas se o jogo só possuísse essa jogabilidade terrestre. Mas infelizmente (ao meu modo de ver), existe essa parte aérea, que realmente não me convence: a nave não parece voar, a jogabilidade é dura demais, é como se controlássemos uma mira de um jogo de FPS em trilhos, tipo House of te Dead ou Time Crysis, e ter que colocar PRA CIMA no direcional para a nave SUBIR vai contra meus princípios de pilotagem: avião que se preze sobe quando o manche é posto para baixo. Bola fora da Namco!
Bom, já deu pra entender como o game funciona, certo? Assim eu vos digo: Burning Force está longe de ser um dos melhores shooters do Mega Drive, mas se vocês me conhecem bem, caros amigos retroaventureiros, devem já saber que não é meu estilo só falar sobre jogos lindos e adorados por todos. Então, se vocês analisarem as escolhas que fiz até agora para este especial, verão que existe um fator em comum entre eles que levei em conta na hora de escolher os jogos que iniciariam minha participação na brincadeira…
Já perceberam, caros amigos? Não? Então eu vos digo: todos são protagonizados por garotas! Mas antes que vocês me chamem de pervertido ou velho safado, eu me defenderei dizendo que o motivo é nobre!!
Em minha infância e pré adolescência, o universo dos games era machista pra caramba. Fora aqueles jogos onde as gatas vinham como opção em meio a um monte de machos, como em Streets of Rage (Blaze sua linda!) ou Golden Axe (Tyris sua fogosa!), era uma baita raridade achar um game onde o protagonista fosse uma garota, uma heroína. Os marmanjos barbados peludos dominavam as posições de destaque nos games, e para as moçoilas, valia sempre a máxima do sexo frágil: sobrava para elas apenas serem resgatadas no final. Assim, sempre que eu me deparava com algum jogo com uma garota estampada em seu encarte, quase sempre voluptuosa e cheia de curvas generosas como só os melhores desenhistas japas sabem fazer, um faniquito percorria minha espinha e eu tinha que alugar o dito jogo pra conferir. Foi assim que conheci games como Alisia Dragon, Dahna, El Viento, e os 4 shmups que descrevi até agora neste especial. Colou minha explicação?
E não foi à toa que estes quatro títulos entraram aqui: com exceção de Battle Mania Daiginjou, que eu só fui conhecer agora, os outros foram games que eu joguei à exaustão em minha época de jogador profissional de Mega Drive (tá, exagerei um pouquinho). Eram games que eu gostava tanto que era de praxe alugar várias e várias vezes mesmo já tendo-os terminado só pra ver mais uma vez as protagonistas em ação, ouvir de novo aquelas trilhas sonoras tão marcantes, avançar por castelos, florestas, desertos e afins que de foma alguma, teriam o mesmo brilho se no comando das ações, estivesse mais um cara de biotipo tão heroico quanto genérico.
Obviamente, ao final da aventura Hiromi consegue conquistar seu objetivo, e se torna uma oficial graduada da federação. Muitas missões e aventuras perigosas agora seriam parte do cotidiano da piloto, pois agora ela estaria oficialmente convidada a mostrar serviço sempre que a Terra necessitasse, mas se esta história chegou a continuar, não era intenção da Namco mostrar pra gente não: Burning Force acabou sendo mesmo uma franquia de um jogo só. Potencial a ser explorado, mais uma vez existia… Os arcades estavam em alta, os consoles caseiros aguentavam bem o tranco das conversões, mas mesmo assim, a Namco não criou uma mísera continuação para as missões da garota, que acabou por se tornar mais uma no rol de personagens esquecidos da história dos games, ou nem tanto…
O negócio é que a Namco não é a Sega (eu adoro pegar no calo da empresa, mas eu amo ela kkk), ou seja, qualquer personagem esquecido que não seja da Sega é passível de reaparecer de uma hora pra outra em algum jogo inusitado, e é o que acontece com Hiromi Tengenji!
Ela figura como aliada dos protagonistas do game Namco X Capcom, um interessantíssimo RPG para PS2 que mistura os estilos Action e Tatic que só foi lançado no Japão, mas que pode ser encontrado em versão traduzida por fãs na net! Inclusive uma faixa da trilha sonora de Burning Force está lá, remixada com qualidade exemplar. Por sinal, já disse que eu estou louco pra jogar este game? Então…

O slogan do antigo RetroPlayers ainda vale pra mim: “também to morto mas tô aí!”
E muito bem acompanhado =)