Já não era sem tempo, estamos chegando aos finalmentes deste enorme e duradouro Retro Especial cheio de shmups para o nosso querido Sega Mega Drive, uma das categorias de jogos em que o console mais se deu bem na década de 90. Com este são 17, vamos até o 20, e já que até agora o que fizemos foi despejar uma quantidade incontável de tiros e bombas na bandidagem aero espacial, que tal dar uma folga então à artilharia pesada para tentar salvar a pátria, digamos, de uma maneira mais peculiar? Nada que um peso de 100 toneladas e uma luva de boxe não possa fazer, não é mesmo?
Gadget Twins não foi um game que eu conheci em locadoras não… A origem do meu conhecimento sobre ele se deu quando fui trocar alguns cartuchos meus por outros nas barraquinhas do bairro da Lapa, um centro comercial próximo aqui de casa na capital de SP, famoso na época não só pelo seu grande número de lojas dos mais variados tipos, mas também pelos mais variados tipos de camelôs! Vendia-se de tudo lá, da cópia pirata mais fuleira à um belo e barato original sem nota fiscal, e para um Office Boy de 16 anos que ganhava um salário mínimo, aquele lugar era o paraíso!
Mas deixando estas quase extintas (pelo menos no local) atividades ilícitas de lado, um dia troquei 3 jogos meus por outros 3 que eu ainda não havia jogado e que não existiam na locadora do bairro, e um destes foi o tal do Gadget Twins. Resultado: eu ainda assovio a trilha sonora grudenta de algumas etapas daquele jogo até hoje, mas o problema é que fora isso, o restante de minhas lembranças não eram suficientes para escrever uma resenha sobre ele… Relembrar era preciso.
Mas caro amigo retroaventureiro, por que será que em nossas lembranças, tudo é tão fácil? Cansei de pegar jogos pra terminar novamente que, de acordo com minha memória, eram fáceis, mas que acabaram por se mostrar umas pedreiras sem noção. Gadget Twins repete a dose, joguinho cartunesco enganador que parece bunitinho, infantilzinho, mas que no final, me fez perguntar pela sexagésima quarta vez: “Como é que eu consegui terminar isso naquela época?”. Olha, eu devia realmente jogar muito viu… Mas joguei, terminei de novo, foi um trabalho lascado daqueles de ficar mais careca do que já sou, e no final, acho que valeu a pena.
Gadget Twins foi desenvolvido pela desconhecida Imagitec Design Inc (Bubsy e American Gladiators), trata-se de um peculiar joguinho de navinha horizontal (e as vezes vertical) que se destaca demais dos outros que eu já havia jogado por ser um título totalmente voltado à parte humorística da coisa. Começamos pelo fato de que os protagonistas do jogo são aviõezinhos com olhos e bocas enormes que possuem os poderes do Inspetor Bugiganga, que moram em um reino de aviões e… Bem, Sabe Cars e Planes da Pixar? Então… E diz a trama que um dia, um aviãozinho maldoso invadiu o castelo e roubou a Gema do Rei (que Deus sabe lá pra que servia além de deixar o rei mais rico), e os Gadget Twins são incumbidos de sair no encalço do meliante. Assim, precisamos pilotar os heróis através de 6 fases ridiculamente lotadas de inimigos, armadilhas, baús do tesouro e… shoppings! Calma, eu explico.
Você não vai se deparar no jogo com canhões e naves inimigas atirando projéteis explosivos e misseis em ninguém, são os próprios inimigos que entopem a tela na tentativa de nos derrubar com o temido esbarrão mortal ou com alguma “coisa esquisita” que eles estejam usando como arma, e são estas temidas bugigangas que a gente acopla no nosso aviãozinho para devolver os sopapos. Elas são equipadas efetivamente em 4 posições que correspondem as 4 direções básicas de ataque (direita, cima, baixo, esquerda), depois escolhemos com um dos botões do gamepad em que direção queremos atacar e o resto é pancadaria aérea. Podemos por exemplo, equipar um peso de 100 toneladas na parte de baixo, uma broca em cima, uma luva de boxe enorme na direita e um braço com martelo na esquerda, e essas são apenas algumas das várias opções de quinquilharias existentes no game. Dá pra equipar também uns mini aviões nas diagonais, mas são acessórios muito raros e que funcionam somente como escudo. Tudo isso é comprado (com dinheiro ganho na destruição dos inimigos) nos diversos e inexplicáveis shoppings espalhados pelas etapas, muito necessários uma vez que se o Game Over for apresentado, precisaremos urgentemente comprar armas novas pois as iniciais são praticamente inúteis.
Em suma, a gente dá porrada literalmente nos inimigos, e eles fazem o mesmo na gente. Não temos o alcance de um laser ou um projétil pra acertar as coisas de longe, precisamos nos aproximar para destruir um alvo, e é ai que a jogabilidade e a decoreba acabam atrapalhando a peleja e deixando o game bem difícil.
Em shmups normais, a regra é destruir tudo o mais rápido possível e desviar do que vier em nossa direção. A partir do momento que devemos nos aproximar para poder acertar alguma coisa a todo momento, passamos a precisar de uma jogabilidade precisa, rápida, ainda mais em um jogo onde tudo vem pra cima da gente com sede de destruição, só que ao contrário disso, controlar o aviãozinho de Gadget Twins chega a ser frustrante. É tão ruim pilotar o negócio que as vezes a gente não consegue nem recolher os itens que saem dos baús (vidas, speed up, speed down, dinheiro, etc) porque a maioria deles fica parado enquanto a tela anda e os engole. A colisão é enorme e mal calculada, chega a dar desespero de tanto que a nave enrosca nos cenários, e muitas vezes nossas armas simplesmente não acertam o que queremos. Mudar rapidamente a direção do ataque requer muita prática, e a velocidade com que os cenários lotados de obstáculos se movimentam podem acabar com a nossa graça em minutos. O jogo já seria difícil sem esses problemas, com eles fica um negócio insano, totalmente dependente da decoreba. Felizmente temos uma generosa barra de energia que pode ser recuperada ao recolhermos itens nos baús, algo bem necessário uma vez que ela costuma se esgotar quase automaticamente quando algo encosta na nave.
Se tem algo relativamente fácil neste jogo são os chefes: sempre grandes e caricatos, só são perigosos quando a gente chega muito perto, mas quase todos eles possuem movimentação fixa e um padrão de ataque muito fácil de se pegar, ai é só ter paciência.
Uma coisa que nas minhas lembranças parecia bem melhor eram os cenários. Coloridos e cartunescos, tudo de acordo com o jogo, até com um efeitinho decente de paralax nos planos de fundo, mas no geral, simples demais. Faltam detalhes, faltou capricho nas sprites, faltou um maior cuidado nos desenhos do game em geral, nas animações, e isso não tem a ver com a idade do jogo: tem a ver com a qualidade do trabalho dos artistas envolvidos mesmo. Já a trilha sonora é uma história a parte: as composições são empolgantes e bem feitas, daquelas que grudam mesmo e não saem nem com removedor. Algumas mais curtas se tornam repetitivas demais, principalmente quando as escutamos incessantemente durante as batalhas contra alguns chefes muito demorados. Uma delas estava tão repetitiva e estridente que eu abaixei o volume a quase zero pra poder continuar jogando! Mas foi uma vez só, quase todas são ótimas e marcantes, tanto que essa foi a principal razão de eu ter dito que o trabalho todo que tive para terminar novamente este jogo valeu a pena: relembrar era preciso, e quando uma boa música ressurge das entranhas de nossas memórias ao ser ouvida durante um jogo, o momento se torna mágico e é uma satisfação enorme assoviar junto!
Gadget Twins é um jogo bem mediano. Apesar da originalidade e da boa trilha sonora, os problemas de jogabilidade e o visual deixam muito a desejar. Seus gráficos pobres e infantis podem afugentar o jogador logo de cara, mas apesar dos problemas, ele se torna divertido quando se insiste um pouco nele. Difícil é resolver insistir para que isso aconteça… Na época isso era bem mais fácil.

O slogan do antigo RetroPlayers ainda vale pra mim: “também to morto mas tô aí!”
E muito bem acompanhado =)