E olha o Sabat invadindo o Especial do Jeff cheio de jogo batuta de navinha pro Mega Drive! O negócio é que eu joguei muita coisa boa desse estilo no sistema 16 bits da Sega, e como sou um chefe mandão e folgado, nada mais justo que eu tomar a força um pedaço do espaço destinado ao melhor do Shoot’em Up do console, não é mesmo? E por falar em Shoot’em Up, o Jeff por acaso já entrou no mérito do que qualifica um game de tiros como tal?
O termo Shoot’em Up, carinhosamente pronunciado pelos adoradores do estilo como Shmup, vem do grego “avançus iatirus”, que é a junção de palavras que provavelmente tem em seus significados, algo a ver com atirar desembestado enquanto se esquiva de obstáculos que avançam para cima de você. Claro que esta situação se repete a exaustão no mundo dos games, e à generalização deste segmento, dá-se o nome de Shooter.
Não entendeu nada, caro amigo retroaventureiro? Eu explico: é normal alguém olhar para um jogo de navinha e chamá-lo de Shooter ou de Shooter espacial, pois nestes jogos, atirar é o que fazemos.
Desta forma, torna-se normal também chamar de shooters jogos de tiro como Contra e Metal Slug, onde a gente atira mais do que anda. Assim, chegamos a conclusão de que Shooters são os games onde o personagem tem como ação principal, atirar MUITO E DESVAIRADAMENTE. Só que são em números incontáveis os games que apresentam esta característica marcante, o que torna normal dentre eles, acharmos títulos completamente diferentes, como um em que avançamos a pé com uma metralhadora por cenários cheios de plataformas no melhor estilo Rambo, e outro em que pilotamos um cavalo alado pelos céus e precisamos desviar do que aparecer pela frente. O primeiro é o Action Shooter, conhecido também por Run and Gun, onde controlamos o avanço do personagem/veículo em meio às fases que nos são apresentadas; o segundo é o Shoot’em Up, o game em que a fase se desenrola pra frente sem que você possa controlar esse avanço, e o personagem/veículo deve atirar e desviar do que for aparecendo.
Tanto o Run and Gun quanto o Shoot’em Up são variações dos Shooters, subcategorias deste tão amplo estilo de jogo, e pelo fato deste segundo possuir em sua biblioteca um trilhão de joguetes protagonizados por veículos aéreos e espaciais, nós brasileiros acostumamos então a chamar o negócio todo pelo simples e carinhoso nome Jogos de Navinha. Tá bem explicado agora? Só faltou dizer que cada uma destas subcategorias possui mais uma montoeira de subgêneros, mas não vou entrar nesse mérito por que o assunto se estenderia ao infinito, e além.
Tá, então a gente acostumou a chamar o estilo Shoot’em Up de Jogos de Navinha… mas e quando o nosso objeto que atira não é uma nave ou um avião, ou um foguete? Então a gente tenta consertar tudo dizendo coisas do tipo Battle Mania é “estilo Jogo de navinha, tá ligado?”
O game da Vic Tokay não trás naves estelares ou aviões, nem mechas super poderosos no comando das ações, mas as duas garotas que tomam frente na artilharia do game fazem bonito quando o negócio é destruir as aberrações robóticas criadas pelo malvadão BlackBall. Battle Mania, ou Trouble Shooter no ocidente, chegou ao Mega Drive em 1991 e não fez tanto barulho assim não… Apesar das boas críticas, demorou um pouco para que o pessoal da época fosse descobrindo o game das gurias aéreas, que por sinal, era um baita game! Eu mesmo não o conhecia, ele não apareceu em revista semi-especializada alguma da época, e só o aluguei mesmo por falta de opção na locadora, em uma sexta feira que eu quis levar vários jogos para aumentar o tempo de estadia dos cartuchos em casa.
E que boa surpresa: eu não esperava que o game fosse um Shmup não… Pelo desenho da caixinha, que trazia duas belas garotas muito bem armadas no encarte, eu apostava que estava carregando na sacolinha um jogo de ação plataforma, talvez algo na linha dos Run and gun, como o fantástico Gunstar Heroes. Quando liguei o jogo e percebi que se tratava de um Shmup, eu confesso que de início fiquei um pouco decepcionado, mas esta foi uma sensação besta que durou só por uns 5 minutos, que foi o tempo que levou para que eu enfrentasse o primeiro chefe do jogo: um robozão vermelho com cara de metido que cumprimenta o público e ri de maneira ameaçadoramente hilária antes de partir para a briga. Eu já havia aprovado o game, e só parei de jogar quando finalmente vi o seu final no último dia de locação, terça-feira a tarde.
Premissa simples: a organização maligna sem nome do vilão já citado resolve sem mais nem menos sequestrar o príncipe mais badalado do momento que passeava com seu pai em visita pelo Japão, e como isso queimaria o filme nipônico a níveis catastróficos, a organização de segurança nacional resolve então contratar as duas jovens heroínas pseudo mercenárias Madison e Crystal (Mania Ōtorii e Maria Hanedano são os verdadeiros nomes orientais, mas vamos tratar as moçoilas por Madison e Crystal pra facilitar, beleza?) para resgatar o garoto o mais rápido possível. Se a premissa é simples, o restante todo do game não chega nem perto disso. Battle Mania tem uma cara de anime inconfundível, a história se mistura em meio aos diálogos e animações dos inimigos e chefes de fase que vão aparecendo e se mostrando tão pirados e cômicos quanto difíceis, e o conjunto do negócio todo transparece a intenção bem sucedida de fazer com que o game lembrasse uma paródia aos seriados de ação japa, principalmente dos animes de mechas e robôs gigantes destruidores cheios daqueles inimigos tontos que fazem MUAAA HA HA HA!
São sim duas garotas que voam pra cá e pra lá com a ajuda de Jet Packs que fazem as vezes de protagonistas no jogo, mas efetivamente, controlamos apenas uma delas, Madison. A loira e seu trabucão cuspidor de balas é o que podemos chamar de “a navinha do game“: é ela que possui o arsenal que se torna devastador à medida que recolhe Power Ups, é ela que leva dano, é ela que tem medidor de life, é ela que carrega a unidade auxiliar de ataque que pode disparar uma rajada especial de energia sempre que o marcador na tela estiver cheio, e é ela quem controla a movimentação de Crystal, a garota de cabelos azuis que faz as vezes de Droid no game. Crystal carrega um canhão de energia fortíssimo, mas que não aumenta o seu poder durante o game. Ela é invulnerável a ataques inimigos, e a grande sacada da jogabilidade do game é a possibilidade de vira-la pra trás, de modo que ela destrua inimigos que venham cheios de más intenções pela retaguarda cheia de curvas das garotas. A boa utilização das duas posições de ataque de Crystal é fundamental para se dar bem no game, pois a todo momento, não só inimigos comuns aparecem por todos os lados, mas também, chefes e sub-chefes teimam em ficar girando e se movendo pela tela rodeando as heroínas.
Battle Mania é um game que se difere da maioria dos Shmups por vários motivos, mas um deles se torna notável assim que se vê a tela de Game Over pela primeira vez: Madison não tem contagem de vidas, apenas um marcador de energia que quando zera, é fim de papo, e só resta então usar um dos poucos continues que o game lhe permite. É possível acumular estes pontos, basta que o jogador tenha reflexo suficiente para nunca ser atingido, pois além de alguns poucos itens de cura que aparecem durante o game para serem recolhidos, cada sub-chefe derrotado na aventura garante uma quantidade a mais deles no marcador, que se torna numérico quando a quantidade deles estoura o limite máximo de bolinhas. O jogo é relativamente difícil justamente por causa deste fator, e como já era de se esperar de um bom game da geração 16 bits, vai ser necessário uma boa dose de decoreba para que a querida expressão game over não apareça em quantidades muito abundantes na sua telinha.
Sem dúvida, estamos falando de um Shmup daqueles que nos conquistam desde a primeira jogada. Seu humor típico e suas fortes referências à animação japonesa, combinados a uma trilha sonora muito boa e a gráficos bem acima da média para o seu ano de lançamento, deixam o jogo extremamente atraente para qualquer gamer fã da cultura nipônica que esteja atrás de um Shmup de qualidade para o Mega Drive. Vale no mínimo uma conferida, mas as chances dessa conferida se transformarem em uma bela de uma detonada são grandes.
E o game teve uma continuação que supera em tudo este primeiro, e ela se chama Battle Mania Daiginjo. Só que, apesar de ter sido planejado o lançamento deste no ocidente, onde se chamaria Trouble Shooter Vintage, o jogo acabou nunca dando o ar de sua graça fora do continente nipônico. Mas não se aflijam caros amigos retroaventureiros, pois em breve, logo após a minha próxima contribuição para o Especial: Chuva de Tiros no Mega Drive onde desenterrarei Arrow Flash (mais uma franquia zumbi da Sega), eu falarei justamente desta continuação, e garanto a vocês: é um game tão ou mais imperdível que o primeiro.
Até lá amigos!
O slogan do antigo RetroPlayers ainda vale pra mim: “também to morto mas tô aí!”
E muito bem acompanhado =)