Um dia, existiram as locadoras de games, e nelas, haviam os jogos que ninguém alugava por puro desconhecimento. Os games da série Valis the Fantasm Soldier faziam parte dessa categoria: não apareciam em revista alguma, ninguém conhecia, ninguém alugava… mas as capinhas eram bonitas pra caramba, isso não tem como negar! Claro que isso me fez alugar as fitinhas, e assim, começa a minha história com aquela que se tornou uma de minhas heroínas favoritas de todos os tempos, Yuko Asou. Sejam bem vindos ao Blog do RetroSABAT, e boa leitura!
A long time ago, in a gamelocadora far far away…
Relato não tão rápido de como conheci a franquia Valis: Lembro-me da antiga locadora de videogames perto da casa da minha mãe, ponto de encontro e local sagrado de locação de mercadoria importantíssima para o bom funcionamento do cérebro da galera gamer, todos sedentos pelas novidades que, em uma época pré-internet, eram mostradas mensalmente nas revistas de games que pipocavam aos montes nas bancas. E a bendita locadora tinha jogo viu… Não devia em nada para as grandes da região, era uma coleção tão extensa de títulos de SNES e Mega Drive que as prateleiras pareciam não ter fim e quase formavam um labirinto no local.
Todo fim de semana, lá estava eu com o grupinho de amigos praticando aquele esquema de pegar uma cacetada de cartuchos tudo na mesma conta pra só devolver lá pra quarta ou quinta feira! Tempo bom que não volta mais!! Foi em um dia fatídico desses que conheci Yuko, uma heroína digamos, fantástica.
É bem verdade que as coberturas das revistas da época eram bem amadoras e, devido a isso, um monte de jogos excelentes passavam despercebidos pela gente. Mas de tanto alugar só os jogos que vinham citados nelas, acabava chegando uma hora que ficava meio difícil escolher qual jogo levar em meio aquele monte de finalizados: era o momento de começar a garimpar algo bom no meio daqueles joguinhos duvidosos e desconhecidos, das capinhas bonitas mas que ninguém alugava. E lá vai eu pegar aquele tal de VALIS III, cartucho japonês que nem encaixava na maioria dos Mega Drives do pessoal a não ser que eles tivessem suas travas extraídas cirurgicamente na faca quente.
Não lembro se fiz careta ou pouco caso do título, não lembro nem quantos games eu aluguei naquela ocasião, o que me lembro como se fosse ontem é de um amigo dizendo o quanto devia ser horrível aquele jogo e de alguns dias depois, eu devolvendo na locadora todos os outros games que eu havia alugado sem nem tê-los jogado direito. Eu só joguei Valis III.
O Mundo fantástico de Valis
Momento clichê emo: foi amor à primeira vista. Tá certo que não dava para entender bulufas da história, aquele monte de pauzinho torto na época era o terror de quem jogava videogame, mas um fato marcante deixava bem claro o que a gente tinha que fazer: detonar aqueles mal-encarados da abertura em anime. Era óbvio que aqueles chifrudos demoníacos estavam tramando algo contra a minha querida Terra e aquela garota esperta capaz de se jogar de um prédio pra recuperar uma espada… péra lá, ela se jogou de um prédio! Esperta onde? Isso mesmo, esperta e corajosa: ela pega a espada e em plena queda livre, uma armadura dourada envolve seu corpo no melhor estilo Cavaleiros do Zodíaco e aquela frágil garota de pijama se torna a guerreira escolhida pelo mundo dos sonhos, a Guerreira de Valis! E como eu ia dizendo, aquela garota esperta seria a responsável pela água que a gente iria jogar no chope da belzebuzada.
Era uma abertura extremamente impactante para a época, principalmente pelas várias cenas em anime que apareciam para explicar os acontecimentos. E passa fase atrás de fase, lá estão elas em grande número e belos traços, mostrando um mundo fantástico e cheio de locais estranhos e inexplorados, abarrotados de criaturas com cara de poucos amigos e guardiões do mau loucos para arrancar o seu couro, e tudo isso em algum lugar perdido por aí, impossível de saber jogando naquele cartuchinho japa.
E no final eram 3 cartuchinhos japas, pois joguei também na sequência, Valis I e Valis SYD! Era pauzinho torto que não acabava mais.
Quando parei de jogar os games da série, senti um certo vazio em relação aos títulos. Eu queria sim saber do que se tratava aquela história, queria saber onde diabos estava Valis II que eu não achava em lugar nenhum para alugar, e que diabo era aquele tal de SYD com a Yuko em versão cabeçuda! Mas não deu, e o jeito foi deixar pra lá e curtir as novas gerações que vieram e que acabaram para serem substituídas por outras, e assim o mundo segue.
Mas nesse mesmo mundo que segue, de gerações que vão e que vem, de jogos novos que se tornam antigos, e de antigos que se tornam clássicos, inventaram uma ferramentinha show de bola que nos permite reviver os bons momentos que aqueles joguetes de poucos bits nos proporcionavam. É claro que eu me refiro aos Emuladores, coisa de Deus!
Com eles, depois de tantos anos, eu pude finalmente desbravar quase que em sua totalidade o Maravilhoso mundo de Valis, conhecer seus segredos, suas histórias, suas lendas e seus perigos, e o resultado foi algo surpreendente. Não tinha ideia do sucesso que esta série havia feito no Japão, da qualidade assustadoramente boa da história por traz daquele monte de pauzinhos torcidos, e da importância que este game teve para com a indústria de jogos por trazer uma protagonista do sexo feminino, algo extremamente raro de se ver em um universo que ainda hoje é machista pra caramba e que começou a acontecer com mais frequência após Valis ter mostrado que a mulherada no comando dava certo sim senhor.
Agora sim eu posso começar o review especial de…
Valis the Fantasm Soldier
Ok, a franquia Valis me foi apresentada já em seu terceiro capítulo, porém, nada mais natural do que começar pelo princípio de tudo não é? Bem, nem tanto, pois o princípio de tudo data de 1986, para MSX, NES e mais um monte de computadores, em uma época em que eu não conseguia jogar nem Atari direito. O jogo que eu detonei no Mega Drive era Valis I, mas eu nem imaginava que já estava jogando um remake daquele título.
Até então, a softhouse Telenet, fabricante dos games da série, era uma quase desconhecida com grande potencial de crescer e aparecer, e foi com a série Valis que isso aconteceu, mais precisamente na época em que a desenvolvedora começou a lançar seus games nas plataformas Mega Drive e PC Engine. É destes caras que eu vou tratar.
Valis I do Mega Drive seguia da mesma forma que o terceiro game: um side scrool de ação e aventura com bastante exploração, boa jogabilidade e gráficos na média para a época. Possuía um sistema de troca de magias bem eficiente e vários itens espalhados escondidos pelos cenários, como power-ups para diversas armas que Yuko podia colecionar e utilizar durante as fases do game, mas o melhor de tudo era a história de anime, algo que ninguém estava acostumado a ver em um jogo de videogame.
Devido a isso, sucesso de Valis na plataforma da Sega foi visível. Histórias tão ricas e detalhadas não eram lá muito comuns nem mesmo nos animes daquela época, então imaginem a receptividade dos japas quando se depararam com um game que tinha uma história digna de ser comparada às de suas melhores séries de TV?
Valis the Fantasm Soldier é a mais ou menos assim: Espadas mágicas existem, poderosas e estilosas, e uma delas é conhecida pelo nome de Espada de Valis, uma poderosa arma que só pode ser empunhada pela guerreira protetora da Dreamland, um mundo mágico que existe paralelamente ao nosso. A jovem estudante Yuko Asou, em um dia chuvoso mas aparentemente normal, é abordada ao sair do colégio por sua amiga Reiko, que se despede por estar de partida para um lugar que “Yuko talvez chegue a conhecer em breve”.
Quando Reiko vai embora, coisas bizarras começam a acontecer: monstros e criaturas das trevas aparecem e atacam Yuko que, desesperada, vê uma espada aparecer em sua frente ao mesmo tempo que uma voz misteriosa pede para que ela a empunhe. Um clarão acontece e os monstros são repelidos pelo poder da espada.
Yuko foge e se esconde no metrô, onde se depara com um monstrão que cria terremotos. Mostrando, então, um aprendizado super rápido de como se manejar espadas mágicas, a garota derrota a criatura e toma posse de uma esfera que estava em poder do bichão, mas quando ela tenta sair dali, percebe que já não está mais em nosso mundo: Yuko agora está na Dreamland e a soberana deste mundo, que é conhecida pelo nome de Valia, diz a ela que, de seus atos, dependem todo o futuro não só da Dreamland, mas também do mundo dos homens. Yuko se torna então a Guerreira de Valis, e mesmo não ficando nem um pouco grata por isso, sua missão agora é impedir a investida dos exércitos do rei do mundo sombrio, Rogles, que planeja conquistar a Dreamland.
Valia diz à Yuko que Rogles aprisionou o poder que ela protegia, o Yang, dentro de 5 esferas iguais àquela que a jovem guerreira havia conseguido ao derrotar o guardião e isso sobrecarregou na Dreamland a influência do poder regido pelas sombras, o Yin. A desarmonia entre as duas forças seria suficiente para causar a destruição dos mundos, e é por isso que Yuko deve recuperar todas as esferas de Yang que estão de posse das tropas de Rogles.
Como se não bastasse uma história sólida e muito bem feita, toda contada com cenas em anime e do jeito que a japaiada mais gostava (entenda “cheia de colegiais de saia”), o game possuía gráficos bacanudos, fases com ambientes bem variados, dificuldade moderada e uma heroína extremamente cativante que tinha muito a oferecer fora o corpinho bonito! Controlar a Guerreira de Valis pelas etapas daquele jogo era algo muito prazeroso, cada inimigo derrotado nos deixava com mais vontade de avançar até o derradeiro chefão e, em épocas onde era raríssimo encontrar heroínas no protagonismo das aventuras de videogames, Yuko deu tão certo que abriu as portas para outras fazerem o mesmo no mega Drive, como as belas Alisia, do excelente Alisia Dragon da Game Arts, e Annet, de El Viento, jogo da própria Telenet que, infelizmente, teve uma história um pouco triste e que eu ainda contarei para vocês algum dia.
Mais Screens da versão Mega Drive:
Valis foi uma grata surpresa. Um game simples e que vinha com o agravante de eu já ter jogado o seu 3º capítulo, mais novo e obviamente bem mais avançado tecnologicamente, mas que ainda assim, me fez sonhar um pouco mais com as aventuras daquela guerreira mágica e com suas próximas passagens pela Dreamland.
Valis the Fantasm Soldier
+ Turbografx 16, MSX
ANO: 1991
Telenet-Wolfteam
Score: 7.0
Melhorando tudo no PC-ENGINE CD
E se a fórmula já estava dando certo até demais, normal a Telenet portar o game para outros consoles para aproveitar a boa fase e faturar uns trocados, não é mesmo? Assim, no ano seguinte, o game ganhou uma versão para Pc-Engine Super CD, ou Turbografix 16 aqui no ocidente, mas fugindo à regra, o port não se tratava apenas de um mero caça-níquel de cara idêntica à original: Valis para Pc-engine era simplesmente a versão definitiva daquele título.
Olhem que diferença monstruosa! primeiro, a versão Mega Drive, depois a versão Turbografix 16/Pc Engine CD
O game estava muito mais bonito, mais detalhado, colorido, as sprites dos personagens exibiam muito mais quadros de animação, o game estava mais longo, e o que mais chamava a atenção logo de cara: tinha mais cut-cenes explicativas entre as fases, e todas elas com um nível de animação muito superior à versão de Mega Drive. Já na abertura do game, muito maior e mais bonita, ficava nítido o capricho que o pessoal da Telenet teve com título. Aproveitaram muito bem o poder da mídia CD, o que deixou a trilha sonora extremamente boa (não que a do Mega Drive fosse ruim, na verdade já era milagrosa, mas não dá para comparar com áudio de CD), e aproveitaram o espaço abundante para colocar todos os diálogos do game com vozes reais!
O contra é que o game estava muito, mas MUITO mais difícil! Qualquer um que tenha terminado, mesmo com facilidade, o game do Megão, sentiria dor no fígado de tanto morrer tentando vencer essa versão de PC Engine.
Mais Screens da versão PC Engine CD:
Vale citar que o PC Engine possui um sistema de salvamento que guarda nosso avanço a cada fase vencida, e se não fosse por isso, terminar esse game seria uma tarefa das mais pauleiras da geração toda. Mas no final, o sufoco vale a pena, pois esta é sem dúvida a melhor versão de Valis I de todas as lançadas. O final do jogo nela é muito mais recompensador e bonito que o da versão para o console da Sega, e só isso, já faz valer o perreio todo!
Valis the Fantasm Soldier
+ Mega Drive, MSX
ANO: 1992
Telenet-Wolfteam
Score: 8.0
No final das duas versões do game, Yuko derrota Rogles, que arrogantemente a esperava em seu castelo. O mundo dos humanos está salvo, nossa heroína abre os olhos e se vê onde tudo começou: parada na chuva segurando sua maleta escolar.
Foi um sonho? não… um detalhe em seu pulso prova que não.
Em breve, a segunda parte do Review Especial: Valis the Fantasm Soldier, com toda a minha jogatina de Valis 2 cheia de revelações sobre a história, a verdadeira origem de Yuko e as grandes diferenças entre as versões existentes. E põe grandes nisso!!
Obrigado, e até breve!
O slogan do antigo RetroPlayers ainda vale pra mim: “também to morto mas tô aí!”
E muito bem acompanhado =)