Pancadaria, muita pancadaria. Nada melhor para aliviar os ânimos do que descarregar socos e chutes em alguns bandidos pela cidade. Assim é Streets of Rage, ou Bare Knuckle como é conhecido no Japão, um fantástico jogo lançado em 1991 para o Mega Drive como resposta da Sega ao clássico Final Fight, lançado no ano anterior.
O jogo conta a história de três ex-policias: Axel Stone, um artista marcial vidrado em vídeo games, Blaze Fielding, uma judoca dançarina de lambada e Adam Hunter, um cultivador de bonsai e ex-boxeador. A missão desses três ex-policiais é ir atrás do grande bandido e vilão do jogo, Mr. X (um nome bem original, por sinal), que controla uma super organização criminosa e, para isso, os três terão que varrer das ruas a bandidagem com muita porradaria.
O jogo é um Beat’n Up, estilo que era febre nos fliperamas de antigamente, aqueles jogos de briga de rua que você só avança o estágio conforme vai derrotando os inimigos, e por vezes, usa vários itens que podem ser encontrados no caminho. Cada um dos três personagens jogáveis possui habilidades diferentes, e é só escolher o que melhor se adapta a você e partir pra cima da bandidagem. Alex é o mais equilibrado, unindo força e agilidade, Adam é o mais forte, mas o preço que paga por isso é ser o mais lento, e por fim, a musa da pancadaria, Blaze, que conta com velocidade e agilidade muito boas, mas que em compensação, é a mais fraca fisicamente do grupo. Nada que um bom pedaço de cano não resolva!
O game conta com uma jogabilidade espetacular, precisa e rápida, que garantia uma gama de movimentos e golpes que superava tudo que existia no mercado da época em matéria de Beat’n Up. Além dos comandos básicos como soco, chute e a manjada voadora (aquele chute pulando), você também pode utilizar vários itens interessantes nas lutas, como encanamentos, garrafas que ao primeiro golpe se quebravam e ficavam ainda mais letais, facas, tacos de beisebol, e mais um belo arsenal de botar qualquer filme de ação dos anos 80 no chinelo. O game podia ser jogado em duas pessoas, e dessa maneira, ainda era possível desferir alguns golpes combinados entre os personagens. Tá certo que era necessário uma certa dose de sincronia entre os dois jogadores, mas quando a dupla pegava entrosamento, era divertidíssimo usar estes golpes, ainda mais se tivesse gente assistindo!
E ainda assim, caso você ficasse no sufoco total, podia contar com o ataque especial: um policial amigo dos personagens que, assim que solicitado, aparece com seu carrão da polícia, sai dele e mira uma bela bazuca pro alto, disparando um balaço que acertava todos os inimigos da tela, um belo de um estrago. Uma pena o movimento ser limitado por personagem, mas também ficaria fácil demais se fosse ilimitado. No máximo, é possível se achar escondido em algumas fases, um item bem raro que garante uma bazucada extra!
O que eu mais odiava era quando eu apertava sem querer o botão de especial quando só tinha um inimigo da tela, gastando a toa a bazucada que viria a ser útil mais pra frente no jogo. O jeito era curtir a bela animação do policial chegando, e depois torcer para encontrar pela fase o tal item que me dava o direito de usar novamente o especial.
Por falar nisso, a aventura não duraria muito tempo se não fossem os itens que nos ajudam e ficam espalhados pelo cenário. Uma sensação totalmente satisfatória era quando eu chutava um latão e dentro dele surgia um belo e gordo pedaço de carne para recuperar a energia que sempre ficava baixa. Além dos pedaços de carne, é possível também encontrar sacos de ouro que adicionam mais pontos no seu placar (queria saber quem era o louco que deixava isso dentro de galões e caixas pela cidade), vidas extras e os já comentados itens de especial.
Os gráficos desse jogo são algo que me deixavam boquiaberto na época e ainda me deixam vislumbrado mesmo hoje. Já na primeira fase, nas ruas da cidade a noite, você vê as fachadas das lojas e vitrines com letreiros iluminados de neon muito coloridos, o que já mostra logo de cara que a palheta de cores do Mega Drive nesse jogo foi muito bem utilizada. O visual de final dos anos 80 é bem marcante e visível nos cenários (fora o vestuário tanto dos personagens quanto dos inimigos), e isso ajuda muito a manter o clima de briga de gangues que o game propõe, algo bem estiloso. O estágio mais espetacular é o terceiro, que começa na praia: o efeito de chuva junto com as ondas do mar era algo, para a época, alucinante, e me impressiona ainda hoje.
A trilha sonora é uma obra primorosa, e de forma alguma eu a deixaria de fora dessa avaliação. Composta pelo respeitado e ilustre Yuzo Koshiro, criador de trilhas para os mais diversos jogos como Sonic the Hedgehog, Ys I e II, Shinobi e até jogos mais recentes como Super Smash Bros Brawl entre vários outros, Koshiro consegue dar o tom certo para cada um dos sete estágios de Streets of Rage, auxiliando na imersão inclusive nos chefes de fase. São músicas com batidas fortes e inspiradas, coisa marcante! Interessante é notar que o hardware de áudio do Mega Drive não era um dos melhores, mas em Streets of Rage conseguiram criar uma das melhores trilhas sonoras da história dos videogames, e não é opinião pessoal: é um consenso mundial. É difícil explicar com palavras, só escutando para crer!
Os inimigos são bem variados em relação aos seus sprites (o visual deles). A medida que você avança no jogo, sempre aparece um inimigo novo com uma habilidade específica nova. Ainda passo maus bocados com o maldito gordão que cospe fogo e sai correndo na sua direção! Por questões de hardware, a partir de um determinado momento, os inimigos se repetem, mas o interessante foi a idéia (não original, mas funcional) de inimigos mais fortes estarem com roupas de cor diferente. A inteligência artificial, apesar de se fazer óbvia depois que você pega o jeito dos inimigos, ainda é bem eficiente e consegue manter o jogo bem desafiante do início ao fim. Quando você se encontra em uma tela com dois ou mais inimigos, eles tentam te cercar para dificultar ainda mais sua vida, e eles também podem pegar itens no chão, como facas e chicotes. Obviamente que eles vão utilizar isso em você!
Os chefes de fase são ótimos desafios. Assim como de praxe nos Beat’n Ups, todos os estágios do game (exceto o do elevador) possuem um chefão no final do percurso, sempre com seus movimentos e habilidades próprias. Jogando no modo difícil, eles são um grande desafio até quando você joga com dois jogadores cooperativamente. Interessante é que os chefes voltam a aparecer quando você avança no jogo! Aparecem como inimigos normais, só que com a mesma força de antes, o que demonstra como o jogo torna-se desafiador e difícil ser superado.
Algo que adoro é a parte final do jogo, quando você encontra Mr. X. Antes da verdadeira batalha, você tem um diálogo com o chefão e ele te pergunta se você não gostaria de se juntar a ele. Aí esta um diferencial que eu adoro: quando você joga com dois jogadores em cooperativo, se um disser que aceita se juntar ao chefão do crime e o outro disser que se recusa, então é iniciada uma batalha entre os dois jogadores, um contra o outro. Se o personagem que disse SIM vencer, enfrentará então Mr. X sozinho e verá o segundo encerramento do game, o BAD END. Agora, se todos (ou só você se estiver jogando sozinho) não concordarem em se juntar ao X, ele mandará alguns capangas pra cima de você, moleza para quem já passou por tudo quanto é situação desesperadora no jogo, e depois disso sim a verdadeira luta começa.
Os finais do jogo eu não vou comentar aqui, porque pode estragar a surpresa de quem não jogou, mas o que posso dizer é que o jogo compensa ser zerado diversas vezes, pelos níveis de dificuldade e pelos dois finais, o bom e o ruim. Os finais são tão bons que vale até usar alguns macetes como pular direto pra última fase ou começar com algumas vidas extras a mais, aqueles bons e velhos macetes de tela de abertura onde se tem que apertar uma sequencia de botões.
Depois dessa versão do Mega Drive, o Master System e o Game Gear ganharam uma versão mais simplificada do jogo, mas que ainda diverte bastante. Já o Mega Drive ganhou as sequências Streets of Rage II e III, também excelentes e que espero em breve avaliar para vocês aqui no Retroplayers. Por fim, Streets of Rage é um excelente jogo, referência no estilo Beat’n Up, e que marcou a infância e a adolescência de muita gente. É difícil encontrar hoje jogos do estilo que possam ser comparados a esta franquia épica da Sega, ao qual eu recomendo muito para quem ainda não teve a oportunidade de se aventurar pelas Ruas da Violência.
Fim
Mercenário, clone profissional e combatente intergalático que ainda arrumava um tempinho para escrever aqui no Retroplayers!