Tudo bem, admito, estou adorando essa montoeira de filmes que os Estúdios Marvel estão derramando nos cinemas do mundo. Claro, eu cresci lendo os quadrinhos onde estas mesmas histórias foram mostradas originalmente, os Vingadores fizeram parte da minha infância/adolescência, e agora só fico no aguardo do novo e definitivo Spidey para que esse universo cinematográfico fique completo… bem que poderiam ter mantido o Andrew Garfield no papel, ele ficou muito convincente como Peter Parker… Mas em fim, troca de atores à parte (cai fora Mark Ruffalo!!), naquela época dos quadrinhos, o máximo que a gente presenciava de referência aos nossos heróis fora das bancas eram alguns desenhos bem ruins e infantilizados que pipocavam na TV e um ou outro filmes piores ainda, coisa deprimente mesmo. Salvava o quê? Adivinhem: os videogames!
Não precisamos nos esforçar muito para lembrarmos daquele monte de títulos que apareciam em nossos consoles. Batman já era figura obrigatória em qualquer plataforma muito antes do Nolan transformar o morcegão no herói predileto invencível da última semana de todo mundo. E o Spider Man então nem se fala! Haja quebra pau com o Venom e sua ninhada no Mega e no Snes! Só que um dia, em uma de minhas idas e vindas ao enorme fliperama do Shopping Eldorado na capital de São Paulo no início da década de 90, tomei conhecimento da existência de um arcade da Data East, onde representantes do mais poderoso grupo de heróis da Marvel trocavam sopapos com uma turma enorme de meliantes para livrar o planeta da destruição pelas mãos do Caveira Vermelha, e isso aconteceu da pior maneira possível: minha única ficha gasta em Captain America and The Avengers naquele arcade durou meio minuto e me deixou com cara de derrotado pelo resto do final de semana.
Sabe como é, a principal função de um arcade não é te divertir, é comer seu dinheirinho em forma de fichas, e isso aquele jogo maldito fazia bem até demais! Apesar de parecer muito legal e empolgante, cheio de vozes digitalizadas e gráficos que pareciam muito com as imagens das histórias em quadrinhos, eu fiz questão de não chegar mais perto daquela máquina, mas foi só ir até a game-locadora algum tempo depois para que um plano mirabolante se construísse em minha cabeça. Aconteceu que semanas mais tarde, eu me dirigi até o estabelecimento para pegar alguns jogos e lá estava na prateleira prontinho para locação, novinho, recém chegado, a caixinha de um jogo dos Vingadores para o Mega Drive! Não era possível, peguei a caixinha e olhei atrás para ver as fotos in-game e Nossa Senhora, era o mesmo jogo definitivamente que havia me humilhado no shopping. Mais um port de Arcade aterrissava no meu saudoso megão, e eu o levava pra casa sem pensar duas vezes para jogá-lo à exaustão por um final de semana inteiro. O objetivo: ficar expert em Captain America and The Avengers para, depois, voltar ao fliperama e me vingar.
O jogo chegava aos consoles caseiros em 1992, sendo a versão do Mega Drive desenvolvida pela própria Data East, o que garantiu uma boa proximidade do port para com a sua versão original dos arcades, de um ano antes. Trata-se de um Beat n’ Up bem tradicional, onde basicamente andamos e batemos em quem aparecer no caminho, gênero extremamente popular na época e que eu adorava. A jogabilidade simples e intuitiva contava apenas com 2 botões e funcionava muito bem: um botão para ataque e outro para pulo, ataques aéreos com diferentes efeitos de acordo com a altura do pulo, e pressionando os 2 botões juntos temos, então, um ataque especial que varia para cada um dos quatro vingadores disponíveis, que são Capitão América, Homem de Ferro, Visão e Gavião Arqueiro. E cada um deles tem habilidades distintas, como por exemplo, a escudada do Capitão que acerta vários vilões ao mesmo tempo, mas não é tão forte quanto a flechada do Gavião, que mata quase todos os inimigos normais de primeira, mas nenhum deles tem um ataque aéreo melhor que o do Homem de Ferro, e por aí vai. As diferenças são sutis o suficiente para que possamos ter nosso personagem predileto, o que pode causar alguma briga na hora do multiplayer… Lembro que depois de ficar bom com o Stark, tive que aprender a jogar com Rogers simplesmente porque um dos meus amigos não queria jogar com outro personagem… Ô frescura!!
Esquerda: versão Arcade original. Direita: versão para o Mega Drive. O Downgrade gráfico é nítido, mas o jogo flui muito bem
E foi jogando em casa que descobri que o jogo tinha seus momentos de shmup, onde os personagens saiam voando (alguns pegavam uma navinha emprestada) e o botão de ataque virava o de tiro. Eram etapas que, apesar de bem legais, apareciam pouco e serviam mesmo só pra variar a jogabilidade, mas foi muito legal vê-las, pois lembre-se, minha partida no arcade durou meio minuto, eu nem imaginava que elas existissem! Acho que a coisa que mais me empolgava enquanto jogava eram mesmo as vozes digitalizadas: apesar das limitações do mega drive, estavam todas lá e acredite: para a época isso era realmente algo muito, mas muito bacana! Ouvir o capitão gritando “THANK YOU WONDERMAN” ou “STOP RED SKULL!” era muito legal, e isso sem contar que a trilha sonora do game era muito boa e mantinha a qualidade, claro, dadas as devidas diferenças para o arcade.
Só que no todo, o jogo era muito mediano. Divertido sim, ainda mais em se tratando de uma partida multiplayer (um Beat n’ Up tem que ser realmente desastroso pra não ser divertido nem em multiplayer), mas ainda assim, mediano. Para a época estava bom, era mais um port de arcade consistente e divertido, mas tecnicamente ainda mediano, com uma mecânica bem simples e quase nenhuma variação. E isso tudo sem contar que os 7 continues da versão caseira e alguns ajustes resultantes das óbvias limitações de hardware acabaram deixando o port bem mais fácil que o original. Mas que fique claro, isso tudo vale para a versão do Mega, porque a do Snes, publicada pela Mindscape e desenvolvida por uma tal de Realtime, era um game daqueles que a gente recomenda só de pirraça para aquele cara chato que todo mundo detesta só pra vê-lo sofrer. Apesar dos bons gráficos, o restante todo era desastroso: um jogo absurdamente lerdo, travado, e que tinha uma jogabilidade tão horrível que deixava a aventura simplesmente indigerível! Fácil fácil um dos piores títulos que o Snes já recebeu.
Não lembro quantas vezes eu terminei Captain America and The Avengers naquele final de semana, mas sei que foram várias. Eu realmente curti o game dos Vingadores, tanto que cheguei a alugá-lo mais algumas vezes… Verdade também que eu queria me certificar de que minha habilidade nele não iria diminuir, pois se você acha que eu havia me esquecido do objetivo maligno principal por trás daquela jogatina toda, o senhor está redondamente enganado! Um dia eu voltei ao fliperama do shopping Eldorado, todo confiante daquela vez, comprei uma ficha e fui de peito estufado em direção àquele arcade. Pois é, eu iria detonar, minha vingança seria plena! Cheguei nele, coloquei a ficha, resolvi jogar com o Capitão e… Bem, o treinamento no Megão sem dúvida surtiu efeito: a ficha durou 1 minuto, o dobro!! Sucesso!!
Dá pra jogar sem problemas Captain America and The Avengers para Mega Drive hoje em dia, ainda mais se for com alguém no controle 2, o que poderá render bons momentos de diversão no comando de alguns dos heróis mais badalados da atualidade. Mas para muitos, pode ser uma ótima ideia também deixar a jogatina pra lá e ir assistir alguns filmes com estes mesmos heróis, tanto por que o game é meio arcaico e pode não agradar tanto quanto as películas, coisa que certamente não aconteceria no início da década de 90 com aquele monte de filmes toscos. Novos tempos…
O slogan do antigo RetroPlayers ainda vale pra mim: “também to morto mas tô aí!”
E muito bem acompanhado =)