Lançado apenas dois anos depois do primeiro Phantasy Star, o segundo capítulo da saga não apresentou grandes avanços gráficos e nem utilizou todo o potencial do Mega Drive justamente por ter sido lançado tão rápido. Mesmo assim, é impossível não se assustar com a complexidade de sua trama que, diferente da grande aventura esperançosa do primeiro capítulo, caracteriza-se por muito realismo e acontecimentos terríveis que ficaram eternamente cravados nas memórias de quem teve a coragem de se arriscar naquela segunda jornada pelos mundos que compunham o Sistema Solar de Algol. O clima do jogo é extremamente intenso, e a morte persegue os jogadores de maneira constante e insistente. Com certeza não é um exagero de minha parte afirmar que Phantasy Star II é um dos melhores jogos de TODOS OS TEMPOS!
Tudo começou quando o maior ídolo pop-star retrogamer da galáxia de nome Roberto Bechtlufft, mais conhecido pelo seu título de nobreza Gagá, me contou um pouco sobre o enredo de Phantasy Star II enquanto eu desafiava o terceiro e mais polêmico título da série.
Eu expliquei ao Gagá que estava evitando o Phantasy Star II devido a sua dificuldade extremamente absurda, mas o velhote utilizou de uma carta na manga para me fazer jogar o título por maior que fosse a sua dificuldade: ELE ME CONTOU O FINAL DO JOGO!
O Gagá não é do tipo que adora estragar surpresas, mas o que ele me contou era tão extraordinariamente fantástico que me motivou a terminar rapidamente o que eu estava jogando e reunir forças para vencer o grande desafio contido em Phantasy Star II.
Estava tudo bem até ELES chegarem…
Os principais acontecimentos do game ocorrem na distante galáxia de Andrômeda, em um sistema que se chama Algol por ter três planetas orbitando em torno de uma estrela de mesmo nome. Em um dos planetas desse sistema, Palma, viveu e lutou uma já esquecida heroína chamada Alis que, com ajuda de um destemido guerreiro, um poderoso mago e um gato falante, conseguiu livrar o sistema algoliano da supremacia do ditador Lassic e da maldição de uma força demoníaca que observava ansiosamente cada passo dos heróis com o intuito de escolher o momento mais propício de matá-los e levar todo o Sistema de Algol para um abismo definitivo. A história de Phantasy Star II acontece 1000 anos após esses acontecimentos.
O jogo começa com o pesadelo frequente do protagonista Rolf, um louvável agente que cuida de uma peculiar e bela criatura felina chamada Nei. Neste pesadelo, Rolf observa a força maligna da qual Alis enfrentou no primeiro jogo acertando-a muitas vezes. A guerreira pede ajuda, mas o agente não consegue se mover durante todo o pesadelo. Quando a maligna criatura está prestes a desferir o último e mais cruel golpe de misericórdia, Rolf acorda.
A aventura se passa desta vez em Motavia, planeta que era caracterizado por seu infindável deserto no primeiro capítulo da saga, mas que agora, graças a um supercomputador chamado CÉREBRO-MÃE, está com uma grande quantidade de um exuberante verde assim como outro planeta do sistema de Algol, Palma. Caso você tenha jogado algum jogo da série Metroid, provavelmente já deve saber que qualquer coisa que tenha o nome de CÉREBRO-MÃE pode lhe causar muitos problemas em um futuro próximo.
Ao visitar o Governador do planeta, Rolf recebe a missão de investigar o surgimento de bio-monstros, fato que deveria ser impossível com a tutela do Cérebro-mãe, e não consegue impedir que Nei o acompanhe. A aventura prossegue, e Rolf conquista aliados com motivações internas e habilidades extremamente diversificadas. Os perigos são muitos, e os heróis sofrem com a morte de um poderoso e especial aliado. A situação se complica, várias pessoas sofrem as consequências dos confrontos da aventura, e os heróis ainda são considerados criminosos pela população e sofrem constantes perseguições por estarem enfrentando o próprio sistema.
A maldição de 1000 anos atrás parece estar cobrindo novamente o Sistema Algoliano de horror e destruição, mas os verdadeiros inimigos causadores de todos os conflitos só são revelados no final da aventura, e o entrelace é chocante, controverso e muito sombrio, embora o heroísmo, a persistência e o sentimento de vitória marquem qualquer um que tenha jogado Phantasy Star II até o final.
O PRIMEIRO e mais IMPACTANTE RPG do Mega Drive!
Logo no começo do game, o jogador é obrigado a juntar uma grande quantidade de mesetas (a moeda comercial de Algol) para comprar alguns equipamentos necessários à desbravação do primeiro labirinto, onde encontrarão batalhas iniciais muito difíceis e que rendem pouquíssimos prêmios. O jogo realmente obriga nós, jogadores, a passar vários horas em batalhas aleatórias, seja se perdendo nas dungeons, seja propositalmente para ganhar mais experiência, e caso você esteja imaginando que as coisas ficarão mais fáceis depois disso, eu sinto lhe informar que o verdadeiro inferno começa depois de comprar os tais equipamentos, pois a curva de dificuldade das dungeons e inimigos aumentava desproporcionalmente acima do nível dos equipamentos que você deveria ter para enfrentá-las.
A equipe da SEGA optou por excluir a marcante visão tridimensional das dungeons, que era uma das principais características do primeiro jogo da série, e embora isso tenha deixado o jogo mais frenético, também permitiu criar alguns dos mais complexos e difíceis labirintos de todos os tempos. É quase impossível não se perder neles ao adentrá-los pela primeira vez, e como as batalhas exigem bastante atenção já que um único inimigo pode liquidar todo o grupo com um só golpe, o jogador se sentirá o próprio TESEU no Labirinto do Minotauro!
E assim como Teseu usou um novelo de lã para não se perder em meio as curvas infindáveis que ele via pela frente, o jogador também deverá marcar todos os caminhos que fizer ao explorar as dungeons de Phantasy Star II. Como a grande maioria dos labirintos do game possuem uma infinidade de caminhos que farão qualquer um ter a impressão de que está andando em círculos, o jogador começará a desenhar os mapas instintivamente, tanto que eu mesmo passei ao menos metade da jogatina desenhando mapas. A dificuldade realmente é muito alta, mas é também um artifício para criar uma tensão constante no jogador, algo próximo do que sentimos em jogos do gênero SURVIVAL HORROR.
Uma característica da série é a forma rápida de como os acontecimentos são apresentados, e em Phantasy Star II, veremos muitas tragédias acontecendo desta maneira: rápida e chocante. As animações em mapa combinadas às poucas, mas artísticas cut-scenes do game são as grandes responsáveis por contar esta história cheia de acontecimentos sombrios, e uma delas serve perfeitamente para exemplificar esta peculiaridade de PSII: existe uma cena bizarra no jogo onde o Pai MATA A PRÓPRIA FILHA e depois explode a si mesmo como um HOMEM-BOMBA! A cena é muito rápida e não pode ser considerada um spoiler pois não altera os fatos que desencadeiam a política e complexa trama do game, mas mesmo assim, ela conseguia chocar o jogador tanto quanto as demais passagens importantes para o desenrolar da história. Lembrem-se que estamos falando de um game de 1989, uma época onde não saia sangue dos cartuchos ao espremê-los!
A Trilha Sonora movimentada e futurista é inesquecível. Embora não utilize todo o potencial sonoro do console de 16 Bits da Sega, todas as composições são muito bem orquestradas e possuem efeitos pouco usados em músicas da época.
As próprias músicas das lojas, que geralmente são bobas, possuem um nível altíssimo de qualidade, muito acima da média para qualquer RPG. Destaco “Bracky News”, uma das minhas composições favoritas que caiu como uma luva para uma notícia triste que o grupo de heróis recebe no Laboratório de Clonagem, após destruir o Climatrol.
O verdadeiro desafio contido em Phantasy Star II só é realmente apresentado quando o grupo viaja para o gelado planeta Dezóris. Nessa etapa final do game, a dificuldade aumenta assustadoramente, com batalhas muito mais difíceis e labirintos com várias saídas que não levam a lugar algum. Eu mesmo saí e entrei várias vezes no maldito espaçoporto de Dezóris para conseguir encontrar o Chapéu Dezoriano, um item obrigatório para o grupo conseguir se comunicar com nativos do planeta.
“… Somos os últimos da nossa RAÇA!”
A chave de todo o sombrio mistério é apresentada em um memorável e violento confronto final, ao qual não se tem seu resultado apresentado. Entretanto, quando terminei, pensei: “Putz, tudo aquilo valeu à pena! E os heróis do game são os mais machos que eu já vi! Devem ter vencido todos esses malditos”.
Existem indícios nos títulos posteriores da série Phantasy Star de como a batalha terminou, outra característica muito legal e que agrada demais aos fãs desta franquia, que consideram este segundo capítulo como um “O Império contra-ataca“ da Sega.
Muito provavelmente a Squaresoft se inspirou em Phantasy Star II quando produziu o idolatrado Final Fantasy VII, que também possui um final ambíguo e várias tragédias envolvendo personagens, embora estas sejam apresentadas com uma carga mais dramática, aproveitando toda a tecnologia da época.
Futurista, sombrio e heróico, Phantasy Star II é um RPG a frente de seu tempo, e que merecia um remake lotado de cenas em anime recontando as memoráveis passagens da trama.
CURIOSIDADES:
- A versão americana de Phantasy Star II encurta os nomes de personagens e planetas para quatro letras ou menos, e possui uma frase arcaicamente incompleta devido a limitações de programação: “The color of water around here certainly”, traduzindo: “A cor da água por aqui certamente”… Certamente o quê!? A frase termina no meio, e ninguém sabe o que o personagem quis dizer. Porém, na versão brasileira do jogo lançada no Brasil pela nossa querida TecToy, a frase aparece completa: “A cor da água por aqui certamente parece diferente. Parece que a água brota do fundo do mar.”
- Devido a dificuldade extrema dos labirintos, a SEGA colocou inicialmente um Livro com dicas junto ao cartucho e ao manual.
- As músicas das versões japonesa e americana de Phantasy Star II são iguais, exceto por uma “batida” perculiar e mais forte na versão japonesa.
O Sabat provavelmente vai querer me matar ao ler esse texto e perceber que este jogo recebeu uma nota muito mais alta do que o amado e idolatrado Phantasy Star IV do qual ele “malhou” um pouco, mas a verdade é que eu considero Phantasy Star II muito mais OUSADO E INFLUENTE do que o quarto capítulo da série e do que qualquer outro título do final dos anos 80, embora eu também discorde de vários pontos da exigente avaliação do Sabat.
Inclusive, o Sabat me contou esses dias que estava com a sensação de estar sendo perseguido, e que já tinha visto pelo menos CINCO VEZES na mesma semana um grupo de indivíduos com um pedaço de madeira na mão usando uma camiseta com o texto “ODIAMOS O SABAT E AMAMOS PHANTASY STAR IV” em locais em que ele costuma frequentar. Como um bom amigo, falei para ele se despreocupar, e que isso deve ser apenas impressão, já que ele e não está sofrendo nenhum RISCO DE VIDA.
Brincadeiras à parte, este foi mais uma RetroReview escrito pelo Macho Gamer! Agradeço muito a todos que leram e que prestigiam o trabalho realizado pela equipe do Retroplayers! E é como os velhos fliperamas diziam: Winners don’t use drugs!
FIM

Agilista, Dev e Gamer. Redator do Retroplayers desde a adolescência até o começo da vida adulta. Saiu para encarar os desafios do mundo do trabalho. Escreve atualmente no Homão de Ferro!