“Beat ‘n Up, impossível não se divertir”. Sim, eu não canso de fazer essa afirmação. Na verdade o que eu digo mais precisamente é “Um Beat ‘n Up tem que ser desastroso para não ser divertido nem em multiplayer”, e convenhamos: mesmo que a versão para Mega Drive de The Punisher se esforce para isso, esta afirmação ainda é a pura verdade! Briga de rua por mais de uma década foi um dos gêneros mais amados que os videogames já viram, jogos novos de pancadaria pipocavam aos montes nos fliperamas do Japão na década de 90, e logo depois, ganhavam o mundo para se tornarem lendas destruidoras de fichas que, quase sempre, eram portados para alguma plataforma doméstica. Claro, os gráficos, trilha sonora, jogabilidade e demais características do título original sempre sofriam aquele downgrade básico que deixava estes ports quase sempre muito aquém da qualidade dos games que víamos nos arcades, mas ninguém na época levava muito em conta isso na hora de jogar: o importante era que o título estivesse ali para ser alugado, de preferência, na prateleira da locadora correspondente à nossa plataforma predileta.
Eu particularmente nunca tive o menor receio de alugar um game desse estilo, ainda mais se fosse um port de arcade. No caso de The Punisher, para Mega Drive, eu nem sequer conhecia o arcade, aluguei o jogo mesmo por que eu era muito fã do Frank Castle, o “Justiceiro” nos nossos quadrinhos abrasileirados. As histórias deste ex-fuzileiro naval herói de guerra estavam entre as mais sérias e violentas do universo Marvel (Motoqueiro Fantasma era outro que eu adorava ler), e eu dava muito valor para isso na época. Apesar da fantasia e da ficção de uma história em quadrinhos, sempre preferi a coisa mais plausível, não curtia muito aquele negócio monumental mirabolante hora tecnológico hora mágico que rodeava as histórias, por exemplo, dos X-Men e do Quarteto Fantástico, isso pra citar só uma fração do universo Marvel… Eu gostava mesmo era do jeito que o Motoqueiro Fantasma e o Justiceiro resolviam as coisas: à moda antiga, sem dó, sem piedade, sem frescura. Acho que meu gosto era mais pé no chão mesmo, então ver um game do Frank Castle ali, disponível para o meu console pelo tempo que minhas economias pudessem pagar, e o melhor ainda: um game de pancadaria! O que poderia dar errado?
Aluguei, isso eu tenho certeza, já se eu havia me divertido… Bem, lembranças da jogatina eu tinha: o game trazia Frank Castle e Nick Fury para a baderna, e o inimigo da vez era o Kingpin, ou para os mais saudosos, o balofo Wilson Fisk, o Rei do Crime. E o Nick Fury era o original: branco e com cabelo semi grisalho, quase um J. J. Jameson do exército. Provavelmente mais da metade da galera que vai aos cinemas hoje assistir Os Vingadores e se depara com o Nick Fury negão nem imagina que ele no original é branco e passa longe de ser careca, mas tudo bem, o Nick Fury do Samuel Jackson (que é negão pq foi baseado no Nick Fury de um universo alternativo chamado Marvel Ultimate (Os Supremos para nós brasucas), que por sua vez, é negão por que fora baseado no próprio Samuel Jackson, e aí temos uma salada completa) ficou supimpa, aliás, não tem nada que esse negão não faça nas telonas que fique ruim, o cara é fera! Sou fã!
The Punisher segue a linha dos Beat ‘n Ups clássicos da época: avance e soque, agarre e jogue, pegue o que estiver espalhado pelo cenário e use como arma, saque sua pistola e mate um monte de bandidos… ops, isso não era fator clássico não, era o grande diferencial do jogo! Vira e mexe inimigos armados adentram o cenário e quando isso acontece, seu personagem também saca a arma e uma mira aparece nos meliantes, aí é só apertar o botão de ataque como um louco para atirar à granel e mandar um monte de gente nada idônea para as cucúias sem muito esforço. Quando o meliante que estava armado morre, seu personagem guarda a pistola e a porrada volta a comer solta.
Estes momentos acontecem com uma certa frequência no game e são muito legais, pena que a jogabilidade não ajudava muito. Frank e Nick são absurdamente lerdos, e leve em consideração que nestes momentos, os inimigos também atiravam na gente, e como os personagens se moviam igual duas lesmas, sair da frente das balas se tornava algo muito irritante. Muitas vezes estávamos bem acima ou abaixo do meliante armado, e ele atirava e mesmo assim, acertava o nosso boneco… Ódio!!!
O port não tem nem a jogabilidade nem a velocidade do The Punisher original, alguns movimentos e golpes foram cortados e bastante coisa foi censurada, como o imprescindível charuto do Nick Fury, que de vez em quando ele tira da boca pra soltar aquela fumacinha pra cima, claro, no arcade.
A lentidão dos personagens também se refletia nas voadoras, na hora de agarrar algum bandido, de escapar das porradas, facadas, pauladas, e talvez por isso eu não tenha conseguido terminar o game na época… Sim, eu tenho certeza que não terminei, pois eu nunca me esqueceria do que aconteceu no final do jogo, nunca mesmo. Bem, foi jogando agora, mais de 20 anos após o lançamento do port, que eu fui terminá-lo. Joguei a bordo de um avião enquanto viajava, continuei jogando por mais duas noites após ter chegado ao meu destino, e foi suficiente para que eu finalmente conseguisse levar Franck Castle até a sala do gordão mafioso para quebrar a cara dele. Veja bem, foi difícil pra caramba, o jogo não ajuda em nada. Não ganhamos vidas extras com pontuação, e nem as achamos durante as fases.
A única possibilidade de conseguir uma vidinha é acertar todos os 20 barris de um mini-game bônus que só aparece uma única vez durante o jogo todo, e só. Os inimigos são absurdamente numerosos, itens de recuperação de energia são poucos, e o nosso ataque especial (acionado pressionando ou ataque + pulo, ou botão C, tudo configurável no menu de opções) obviamente gasta energia e não é tão eficiente no dano. Este botão especial também é usado para que o personagem use algumas granadas: é só pular, apertar ele no alto, e ver o povo queimar, só que elas são poucas e não tiram muita energia nem dos chefes, nem dos inimigos. Tive que recomeçar o jogo uma pancada de vezes até conseguir finalmente terminar a aventura e… parece brincadeira, mas isso é algo que acontecia de vez em quando nos games antigos: o jogo simplesmente não te mostra final nenhum, e manda você jogar no hard… Ódio!!!
Junte a isso o fato de que Punisher apareceu no Mega drive só em 1994, ou seja, já existiam uns tais de Streets of Rage 2 e 3 para servir de comparativo no console, e quando fazíamos isso, ficava descarado o nível gráfico, sonoro e técnico quase deploráveis do game do justiceiro, um trabalho realmente fraco da Sculptured Software, a empresa que ficou a cargo de portar o jogo sob mando da Capcom. Mas a coisa ainda poderia ficar pior: caro amigo retroaventureiro, se você visse como era The Punisher nos arcades… Que jogo! Digno dos melhores Beat ‘em Ups que a Capcom já lançou nos fliperamas do mundo.
Bem, e se The Punisher para Mega Drive já era difícil no Normal, imaginem no Hard então… E eu tentei ainda jogar, mas bastou chegar no primeiro chefe para perceber que aquele nível de apelação não era pra mim. Acabei desistindo, só que eu ainda queria muito saber como era o verdadeiro final do game, e para isso, recorri ao nosso amigo YouTube e digo: é um final digno. Curioso é que o gameplay que eu assisti estava com cheat, o jogador morria e não perdia vidas… Assim até eu!
No final das contas, The Punisher para Mega Drive divertia bastante, principalmente em multiplayer. Passava longe de ser um primor dos Beat ‘em Ups, mas era mais um game vindo dos arcades e a garotada da época adorava isso, fosse um port dos bons ou não. Já para os tempos mais atuais, este game pode ser uma boa maneira do fã ser apresentado ao Nick Fury original branco cabeludo, mas jogue sem a série Streets of Rage e a versão original de arcade em mente, por que senão, este jogo corre um grande risco de entrar para o seu seleto e pequeno grupinho dos “Beat ‘n Ups desastrosos”, coisa rara de acontecer, mas não impossível.
Fim
O slogan do antigo RetroPlayers ainda vale pra mim: “também to morto mas tô aí!”
E muito bem acompanhado =)