Chefes de fases avantajados, bizarros e assustadores é o que mais chama a atenção em Gynoug. Enquanto passeia por cenários escuros e enfrenta algumas aberrações, sua tarefa neste obscuro shmup lateral é guiar um tipo de anjo justiceiro rumo a restauração de seu planeta natal. Mais detalhes desta peleja podem ser conferidos em mais um retro review de nossa empreitada sobre “games de navinha” para o Mega Drive.
Após duas décadas, só agora eu toquei novamente nesse game. Não tive como guardar muitas recordações da antiga jogatina, já que foram poucas as horas que o cartucho ficou cravado em meu Mega Drive. Fazer o quê, game emprestado de um pobre estudante adolescente como eu na época, logo vai embora não é? Mas este especial acabou servindo para me fazer relembrar o pouco avanço que tive e dos vários continues que utilizei sem ao menos chegar na terceira fase do negócio. Mas podem ficar tranquilos caros amigos, a dificuldade do game até que é generosa em vista de outros que já detonamos neste especial, eu é que não havia pegado o jeito da coisa lá no passado.
Gynoug, lançado nos States como Wings of Wor (na Europa se manteve o nome original Gynoug), é mais um título que se destaca dentre a grande biblioteca de shmups disponível para o Mega Drive / Genesis. Ele não teve a mesma notoriedade de franquias como Thunder Force, por exemplo, mas não deixa de ser um bom game e no mínimo curioso. O título traz um monte de bichos estranhos pra você destruir, sendo esta uma das características que mais guardei da jogatina no passado. O game foi produzido pelos mesmos criadores de Cho Aniki, aquela franquia que reúne jogos doidões, cheios de personagens masculinos bombados e que perdurou algumas gerações de videogames, desde o PC Engine até o Playstation 2. Foi em Cho Aniki que a coisa desandou de vez para o psicodélico mundo da esquisitice, mas se você não curti as aberrações que existem por lá, pode ficar aliviado que em Gynoug os japas malucos da Masiya ainda não haviam pirado totalmente e por isso a jogatina corre mais dentro do normal e sem muita pimenta por aqui.
Segundo consta no manual ocidental do game, você está em Iccus, o planeta onde os homens podem voar. Suas atribuições são as de anjo pacificador que precisa trazer de volta a alegria e a beleza do paraíso onde vive. O local foi tomado por uma praga, trazendo trevas e causando mutações nos seres locais, transformando-os em um monte de bichos feios. É seu dever impedir a proliferação deste mal, liderado pela aberração conhecida como Destroyer, obviamente o vilão do game. Outros tentaram antes de você e falharam, mas você não pode cometer o mesmo erro.
O game segue a mesma linha da maioria dos shmups tradicionais de scroll lateral que você pode ter jogado. Como mencionado, a tarefa é realizada pelas mãos de Wor, um ser angelical e não uma navinha ou coisa parecida. Seus tiros são fonte de poderes místicos, pequenos projéteis que podem ser multiplicados e mudados de direção através dos famosos Power Ups.
Conforme voa pelo cenário Wor deve coletar orbs de poder que precisam ser acumuladas para melhorar suas habilidades, incluindo a velocidade de seus movimentos. Não há barra de life, cada hit tomado te arranca instantaneamente “uma vida”. Com isso as orbs serão também gradativamente subtraídas de seu medidor e você vai perdendo o nível de power até voltar como era antes. Há também a possibilidade de acumular tiros especiais que podem ajudar em momentos mais críticos. Eles não duram a fase inteira, vem em pouca quantidade, mas você só os utiliza se pressionar um botão especifico, podendo assim guardá-los para o momento oportuno.
A área de colisão é justa e só haverá impacto se realmente encostar em algum obstáculo, inimigo ou projétil, o que favorece aqueles que ainda não trabalharam os reflexos. Se ainda assim a coisa estiver azeda pro seu lado, poderá obviamente ajustar a dificuldade e aumentar o número de vidas para até cinco, indo lá nas opções. Não incomum, a versão japonesa do game não traz o nível Easy. Para dar aquele incremento no calor da jogatina, você pode querer experimentar níveis mais altos de dificuldade, já que a jogabilidade muda consideravelmente. Não se trata apenas de mais inimigos pra destruir, muitos deles passam a se movimentar e atacar de formas diferentes do habitual. Seja como for, haverão quatro continues esperando por você, caso a morte seja inevitável.
As seis fases do game trazem longos cenários, cada um deles com um sub-chefe que aparece na metade do percurso. Os gráficos são bons e o nível de paralax está legal. O som é que não chama muito a atenção, sendo até alegres para um game com tema tão macabro. Penso que poderia ser melhor, já que foi produzido por um dos caras que compôs para Gley Lancer, outro shmup da Masaya que possui uma das melhores trilhas sonoras que conheço no Mega Drive.
Alguns inimigos comuns deixam a desejar. São em sua maioria, formas de vida que não casam muito bem com a proposta dark oferecida pelo game e, a exemplo da parte sonora, acredito que mereciam melhor dedicação dos desenvolvedores. Muitos desses inimigos só estão lá para aumentarem o seu score e podem ser totalmente evitados se assim desejar. Em compensação os subchefes são mais interessantes e, juntamente com os boss levels, melhoram a experiência de sua jogatina. As batalhas ao final de cada fase ficam mais impactantes porque os monstrengos são bem grandinhos, além de esquisitos. Em geral são uma mistura de máquinas com cabeças de monstros, algo que costumo chamar de fusão biologicamente mecânica.
O level design passa por cavernas secas e molhadas e templos que de uma hora pra outra adotam o estilo steampunk. Alguns dos locais visitados são escuros, em outros momentos, inimigos e projéteis se misturam com o ambiente, atrapalhando um pouco a sua decisão de movimento. As últimas fases sugerem que estamos adentrando um organismo vivo, fato também contado no manual do usuário. A dificuldade do game é gradativa e aumenta consideravelmente com o passar de fases, contribuindo para que a tranquilidade desse passeio assombrado comece a ir embora. Há também trechos em que a velocidade de ataque dos inimigos e a rolagem da tela se tornam super acelerados, ótimo para aumentar a adrenalina e testar sua habilidade no direcional.
Tendo em vista que existem muitos outros shmups disponíveis para o Mega, Gynoug pode não ser a sua primeira escolha. Se está procurando games mais difíceis e explosivos guarde este para depois. Mas o game é bom e de forma geral o conjunto da obra não faz feio. Além de tudo, sua jogabilidade é simples, os comandos não são complicados e respondem bem, algo que é muito importante em shmups. Se estiver cansado de viajar por céus e planetas distantes, enfrentando e destruindo inimigos cibernéticos e naves futurísticas, pode ser interessante pra você guiar um personagem com asas. Ainda que Gynoug não seja um título top em sua categoria, certamente podemos considerá-lo acima da média e há nele elementos interessantes que todos os jogadores de “games de navinha” vão curtir, seja o tema, o visual, ou a jogabilidade.
Dito estas coisas, desejo-lhes boa jogatina!
O slogan do antigo RetroPlayers ainda vale pra mim: “também to morto mas tô aí!”
E muito bem acompanhado =)