RetroReview: Kid Chameleon
Olá marmanjos! Esta semana estive fuçando o “baú” aqui (entenda Roms) e me deparei com a imagem de um garoto de óculos escuros, metido a valentão, o que me fez lembrar com muito carinho de alguns dos melhores momentos de minha adolescência, no que diz respeito aos games. É claro que eu sabia muito bem do que se tratava o jogo. Não tive como fugir! A nostalgia bateu forte, convidando-me a ingressar novamente naquela aventura, o que de fato não recusei.
Fazia um bom tempo que não o jogava e aproveitei o momento para escrever este review. O game é de 1992, e foi justamente no final do ano de seu lançamento que espetei pela primeira vez o cartucho de Kid Chameleon em meu console. Digo-vos com toda a certeza, meus amigos: juntamente com os clássicos das séries Sonic, Streets of Rage, Shinobi e tantos outros, este foi um dos títulos que mais vezes joguei enquanto estive com o meu querido Mega Drive.
Por várias vezes, entre os amigos ou pela internet, ouvi e li comentários a respeito do game. Alguns reclamam de sua dificuldade, outros elogiam o fator diversão… Mas a maioria das pessoas que o conhecem, comentam sobre o seu número de fases, considerado o terror para alguns e alegria para outros. E é por essas e outras que Kid Chameleon tornou-se um daqueles games que, ou você ama ou odeia. Eu procurei neste review, trazer à tona os destaques do título e também o que de fato incomoda tantos jogadores. Mas se você for o tipo de jogador fuçador vai descobrir que as coisas podem ser diferentes. Muitas das informações que você verá aqui, já são de conhecimento dos veteranos. Talvez o post tenha ficado um pouco inchado, perdoem-me por isso mas, devido a diversidade que o game traz, não poderia deixar de citar alguns detalhes importantes, seja para você que nunca o jogou ou para aqueles que não tiveram a oportunidade de ir muito longe em sua jornada. Espero que gostem da leitura pois o intuito é que vocês aproveitem melhor o que este clássico game tem a oferecer.
HISTÓRIA MALUCA
O game possui um enredo bem simples e até clichê para alguns Você é Max, um adolescente duro na queda que se prontificou a salvar a vida de algumas crianças supostamente desaparecidas. Elas ficaram presas no chamado Wild Side, um arcade recém chegado à cidade. Trata-se de uma máquina de realidade virtual, na qual você pode entrar para jogar. Devido a alguns “problemas técnicos” com o equipamento, Heady Metal, o chefão final do jogo, tomou para si o controle da máquina, aprisionando todas as crianças que não conseguiram vencê-lo (semelhança com algum filme da sessão da tarde?) É nesta história meio sem pé nem cabeça que Max decide se meter e toda a aventura vivenciada por você, nada mais é do que o próprio game em que Max se envolveu.
Kid Chameleon é um divertido adventure side-scrolling, trazendo consigo elementos consagrados como “pular, atirar e correr“, presente em quase todos os games do gênero. Os temas de suas fases são bem variados, passando por desertos, cidades, montanhas, praias, florestas, entre outros. Seus cenários, ricos em detalhes, escondem diversos itens e passagens secretas. O desenrolar da ação ocorre, na maioria das vezes, da esquerda para direita da tela, podendo lhe obrigar a mudar de direção em várias situações. É um jogo que começa fácil e gradativamente vai exigindo habilidade e perseverança do jogador. Seja por seu som cativante, desafio ou por seus muitos e recheados cenários, Kid conquistou milhares de admiradores por todo o mundo, sendo considerado um dos títulos mais originais que o console já teve.
Ainda hoje, muitos são aqueles que se dedicam ao game e eu sou um destes apaixonados por esta ótima produção da SEGA. Há, contudo, pessoas que precocemente desistem de jogá-lo, considerando-o difícil de se terminar. Em parte isso é verdade e até posso citar mais adiante, alguns dos motivos para tal afirmação.
SANGUE de MARIO
Muitos são os games de 8 e 16 bits que permitem ao jogador explorar os cenários em busca de itens de sobrevivência e PowerUps. Cenários estes, cheios de blocos e plataformas flutuantes, além de inimigos que podem ser vencidos com alguns pulinhos em suas cabeças. Ao jogar Kid Chameleon, fica evidente a inspiração vinda de games com o mascote da Nintendo.
E se aqui você pode adquirir habilidades e formas diferentes, Mario já sabia fazer isso desde os anos 80. Assim, arrisco dizer que o sucesso de Kid se deve também a alguns dos elementos presentes em jogos do famoso encanador, algo que raramente ocorre em outros títulos de Mega Drive. Mas as semelhanças ficam só mesmo nos detalhes acima. Não há como negar que o game possui características próprias, e a possibilidade de se transformar em outros personagens durante o gameplay ocorre da melhor maneira possível. Outros detalhes, principalmente no tocante ao desafio, nos faz acreditar que Kid Chameleon não fora feito para “criancinhas“. O resultado está mais para hardcore do que você possa imaginar. De qualquer forma, trata-se de um game bem acima da média e que consegue roubar nossa atenção, ainda que venhamos a sofrer com vários momentos de morte.
O KID CAMALEÃO
Me digam, amigos retro-aventureiros: em que outro título você tem a possibilidade de “trocar” de personagem com a variedade e frequência existente em Kid Chameleon? Como sugere o nome do game, seu grande trunfo, está justamente nas transformações de Max, o que lhe proporciona habilidades diferentes para cada um dos 9 capacetes (ou máscaras para alguns) adquiridos em meio as fases. Além da aparência e habilidades recebidas, a movimentação e resistência de seu personagem também sofrem alterações: se você adquirir por exemplo, a forma Red Stealth (samurai), seu personagem se tornará mais ágil, super leve (um tanto sem freio), podendo pular mais alto e usar uma Katana como arma (hui-hui!). Isso quer dizer que tais transformações influenciarão diretamente na sobrevivência de Max dentro deste perigoso mundo virtual.
O legal é que você pode mudar de personagem várias vezes na maioria das fases, conforme encontra os capacetes escondidos. Desde que não seja obrigatório a “troca de roupa“, é possível permanecer com aquela que mais lhe agrada até não poder mais. As transformações são marcadas por um “sonzinho” diferente para cada uma delas.
BLOCOS, DIAMANTES e MAGIAS
Em meio aos cenários existem blocos de diferentes tipos, que podem estar visíveis ou ocultos. Juntamente com os capacetes, são eles os elementos responsáveis pela maior parte dos Puzzles presentes no game. Existem os que desaparecem e reaparecem, os escorregadios, os de borracha, os que podem ser destruídos, movidos ou multiplicados. Existem também aqueles que, ao serem tocados, atiram espinhos que podem ser usados a seu favor, liberando passagens ou, ferrando de vez com sua vida!
Os blocos “P” (de prize), escondem itens como diamantes, vidas extras, tempo extra e continues, além dos capacetes de transformação, claro! A cor destes itens (exceção dos capacetes) pode mudar de acordo ao cenário, mas são iguais em efeito. Itens de vidas extras e continues só poderão ser liberados uma vez de seus respectivos blocos. Portanto, se você reiniciar a fase ou passar pelo mesmo local pela segunda vez, ao abrir os blocos que antes continham estes itens, não encontrará nada além de um diamante. Os capacetes não desaparecem com o tempo após liberados, mas não é possível manter em tela mais de um deles ao mesmo tempo. Se dois forem liberados seguidamente, o primeiro desaparecerá, ficando o último a seu dispor. Se você coletar um capacete equivalente à sua atual forma, vai recuperar os pontos de life eventualmente perdidos.
Se Mario coleta moedas e Sonic, argolas, Max coleta diamantes, podendo acumular até 99 deles. Eles não lhe garantem vidas extras: são utilizados durante as magias, que podem variar pela quantidade de diamantes utilizada, sendo 20 ou 50 e é também modificada pela forma de seu personagem. Contudo, não é possível escolher qual das duas magias será liberada. Ao executar o especial com 55 diamantes, por exemplo, serão consumidos 50 deles, ficando os 5 restantes em seu “inventário“. Assim, não espere ter mais de 49 destas joias se quiser executar a magia com 20. Ao alcançar a quantidade necessária para liberar qualquer um dos poderes, um som característico poderá ser ouvido. Apesar de muito úteis em certos momentos, é perfeitamente possível se virar sem magias. Por não ser de uso obrigatório, muita gente nem sabia que Kid podia tal coisa. O comando para liberar o especial é: Corrida+Start
HEADY METAL
Os chefes de fases são variações de Heady Metal, esse cara com aparência de espetinho ai do lado. Ele te lembra algum lutador praticante de Yoga? É um dos inimigos mais estranhos que você poderia enfrentar. São só cabeças espetadas numa flecha e por quatro vezes apenas, aparece no jogo. Heady Metal é imune a magias mas, na forma de Red Stealth com 20 diamantes você poderá torná-lo mais lento, facilitando um pouco as coisas. Seja com pulos, espadadas, machadadas bombas de caveiras ou chifradas, seus ataques comuns sim, tem efeito letal. Em suas primeiras aparições o vilão não dará muito trabalho, mas a coisa muda de figura durante a batalha final em Plethora. Aqui, ele só poderá ser vencido com mais de 30 pulos sobre sua cabeça, independente da forma de seu personagem. Desta vez, nem mesmo Red Stealth poderá ajudar com sua magia.
SEU GUARDA ROUPAS
Se lá no passado você não chegou muito longe no game, talvez não conheça todas as “roupinhas” de Max. Ou talvez não teve a oportunidade de vê-las em ação. Abaixo você tem a descrição de cada uma delas, bem como os diferentes efeitos de magia com 20 e 50 diamantes respectivamente:
- Kid (Max) – Em sua forma normal, o baixinho cabeçudo não usa armas; pode destruir alguns inimigos com pulos em suas cabeças; pode subir e descer rampas com cautela; possui a habilidade de se agarrar na beirada das plataformas e blocos (subindo neles em seguida). Para isso, pressione o botão de pulo pela segunda vez, no exato momento em que estas plataformas/blocos estiverem na altura de seu peito. Magias: Proteção de diamantes (destroem inimigos que nela tocar) e serpente de diamantes (diamantes que buscam os inimigos).
- Iron Knight – “O Pesadão”. De tão pesado pode quebrar blocos abaixo de si com pulos mais altos; não possui armas; escala paredes verticalmente (botão especial); desce e sobe rampas com cautela. Pular muito alto com ele pode ser um desastre, se não estiver em chão firme. Magias: anel de diamantes e um ponto de life extra (ao utilizar esta magia, poderá acumular até 4 pontos extra de life que permanecerão nas outras formas até que você morra).
- Red Stealth – Samurai super ágil, leve e de difícil controle. Pode pular mais alto que as demais formas. Não sobe e nem tem freio nas rampas. Utiliza uma Katana de curto alcance; pode liberar itens ou quebrar blocos abaixo de si com espadadas durante a descida em um salto. Magias: Neblina samurai (deixa os inimigos mais lentos) e serpente de diamantes.
- Berzerker – O “Chifrudinho”. Pode subir e descer rampas suavemente; ataca com chifradas durante a caminhada ou corrida; ofensivo contra a maioria dos inimigos; As chifradas na horizontal destroem os blocos P sem liberar itens, como faz também com os blocos de gelo e pedra; empurra os blocos de aço que percorrem a tela, destruindo os inimigos pelo caminho. Magias: invencibilidade temporária de 9 segundos e parede de diamantes que percorre a tela, destruindo os inimigos.
- Maniaxe – “O Sexta-feira 13”. Uma das formas preferidas de muita gente. Atira machados infinitos na horizontal que percorrem toda a extremidade da tela. Também sem freio nas rampas. Magias: Anel de diamantes e vida extra.
- Juggernaut – O Tank. Atira bombas de caveiras que podem rebater nas paredes; não sobe rampas. Magias: Só possui uma. Dispara 5 diamantes em direção às extremidades da tela (pode executar a partir de 5 diamantes coletados).
- Micromax – “A Mosquinha”. Não possui ataque; anda mais devagar; pode grudar em paredes verticais e escorregar lentamente por elas por alguns segundos. Enquanto estiver agarrado à uma parede, seus pulos sempre serão na direção oposta da mesma, lhe obrigando a subir em zig-zag pelos corredores verticais. Por ser pequeno, pode alcançar locais de difícil acesso. Magias: mini serpente de diamantes e uma versão mais rápida da mesma.
- Skycutter – “O Skatista do futuro”. Não possui ataques; a bordo de uma prancha a jato, é o personagem mais veloz do game, mas não é possível deixá-lo parado; pode entrar em gravidade zero, ficando de ponta-cabeça. Magias: invencibilidade temporária e serpente de diamantes teleguiada.
- EyeClops – “O Cyclops”(?). Sua habilidade é revelar alguns blocos e pontes ocultas, por meio de um raio gigantesco não letal aos inimigos. É a forma mais rara de se ver, pois só existe em poucas e específicas partes do game. Poderia ser melhor aproveitado, uma pena! Magia: só possui o raio da morte, consumindo 2 diamantes.
- Cyclone – “Redemoinho (?)”. Não possui ataque; pode voar (girando) pelo tempo que quiser, alcançando grandes alturas e distâncias. É o personagem mais apropriado para fugir dos inimigos e terminar uma fase mais facilmente. infelizmente não aparece com frequência. Durante o voo pode interagir com os blocos de baixo para cima. Magias: chuva de diamantes que podem aleatoriamente atingir os inimigos e outra versão mais precisa desta mesma chuva.
LONGA JORNADA
Com toda sua diversidade, Kid Chameleon pode se tornar um prato cheio de diversão para os jogadores mais “bisbilhoteiros“. A possibilidade de mudar de personagem, a variedade e o desenho das fases com suas tantas surpresas e, as diferentes formas de inimigos, fazem dele uma aventura épica. Mas nem todos os jogadores conseguiam desfrutar de tudo isso. No passado, quando não existiam os emuladores, terminar este game podia se tornar uma tarefa cansativa. O tempo de gameplay não é curto e podia variar de pessoa para pessoa, já que nem todas as fases são obrigatórias. E são mais de 100, meus amigos. Isso mesmo, são mais de 100 fases!! Estima-se que sejam 103 no total. Algumas são trechos diferentes de um mesmo cenário e outras, de tão curtas, são consideradas apenas pontes entre um nível e outro, como as Elsewhere, por exemplo. Alcançar certas fases pode ser questão de sorte. Isso porque existem vários tele portais espalhados entre os cenários. Alguns deles podem te levar para um ponto adiante ou atrás na fase em que você estiver ou, para alguma ou mais de uma fase adiante também. Até que você decore o destino de cada portal, já terá jogado horas e horas.
A única forma de aproveitar melhor o conteúdo do game é evitar tais tele portais, preferindo alcançar as bandeirinhas, geralmente encontradas no final das fases maiores. Saiba que nem todas são fáceis de se achar, caros amigos. Dica: caso acredite ter ficado preso ou deseje reiniciar uma fase, pause o game e selecione Restart, mas isso vai lhe custar uma vida!Não existe um sistema de Password ou Save (ferrou!!). Esta talvez tenha sido uma das maiores mancadas da SEGA, e a única falha do game em minha opinião, já que é exigido algumas (talvez muitas) horas de jogatina até ser finalizado. Para aqueles que desejarem explorar bem os cenários, se torna obrigatório a coleta de vidas extras, tempo extra (relógio), bem como as moedas de continue. Boa parte destes itens está escondida em blocos ocultos. Isso obrigou muita gente a manter os seus consoles ligados por várias horas, afim de alcançar a última fase do game. Me lembro que no dia em que finalizei Kid Chameleon pela primeira vez, deixei a jogatina com dores nos olhos e cabeça…
GOSTA de DESAFIO?
Nenhum jogo perde seus méritos por conta da idade. Apesar de longo e um tanto exigente, Kid Chameleon é bem divertido. Para você que gosta de um bom adventure e está disposto a enviar algum chefe malvado para o limbo, saiba que não se decepcionará. Pra quem gosta de vasculhar bem os cenários, não deixe de procurar pelos relógios de tempo extra. Os únicos momentos em que você não terá muitas oportunidades de exploração, ocorrem quando estiver com a “parede assassina“ lhe perseguindo. Ser tocado por essa coisa significa morte instantânea. Neste tipo de fase, uma geringonça feita de engrenagens e brocas avança em sua direção. Não pense muito, senão em correr e correr, tomando o devido cuidado para não se enfiar em algum beco sem saída. As magias de invencibilidade podem ajudar, mas não evitarão que a parede continue avançando, portanto, cuidado pra não escolher o caminho errado.
É fácil entender por que muitas pessoas desistiram de finalizar este clássico. Mas se você não se deixar vencer por qualquer obstáculo em prol de um bom desafio, Kid Chameleon é o game certo pra você. Com o auxílio dos recursos disponíveis em nossos queridos emuladores, jogá-lo pode se tornar uma experiência mais agradável e menos sacrificante que outrora.
O game marca presença também nas plataformas da atual geração, disponível para o Virtual Console, PSN, Live Arcade e PC, sem qualquer alteração. Assim como muitos outros títulos, Kid Chameleon carece de uma continuação, algo que infelizmente não aconteceu ainda.
Bem, amigos retrogamers, encerramos mais um post. Como podem ver, com um pouco de coragem, persistência e, talvez calos nos dedos, Heady Metal pode ser alcançado por você, e sem cheats. Não se deixe abater por conta da quantidade de fases. E se você não teve ainda a oportunidade de jogar Kid Chameleon, invista, porque o game vale a pena sim!
Obrigado por sua leitura e paciência. Aguardo seu comentário e, boa jogatina Kid!
FIM
O Jeff é veterano que começou a jogar games com um Bit System. Ele ama jogos 2D. Criterioso e saudosista, adora os jogos de Nintendinho. Atualmente sua plataforma principal é um PCgamer, Mas jogar é com ele, não importa se num console da Sega, Sony e assim vai!